Editorial | Opinião

A Morte do Heroísmo

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Quando criado o conceito de super-heróis, na década de trinta, com o surgimento de seu maior expoente, o Superman, tínhamos um personagem ainda buscando seu entendimento junto à sociedade. Era um personagem cru, cheio de falhas, mas em busca de seu conceito. Ser algo maior para a humanidade, uma inspiração.

Nas décadas seguintes, com a famosa Era de Ouro dos quadrinhos, o entendimento de super-herói foi sendo trabalhado e nos mostrando que ser um Herói era algo maior. Um guia para os meros mortais. Alguém que inspira o melhor nos homens.

E por muito tempo foi assim, tanto que tínhamos dificuldade em distinguir um defensor do outro, afinal, o último filho de Kripton era meio que um guia para se construir a personalidade de novos personagens.

Com o passar dos anos, os conceitos empregados mudaram, como tudo no mundo. E a procura por roteiros mais adultos e mais próximos à realidade, foi uma necessidade do mercado. Eis que grandes roteiristas surgiram, e mexeram no status quo da psique de vários heróis.

Alan Moore, nos anos 80, traz uma releitura de todos os conceitos de Super-heróis, em sua reformulação do personagem Marvelman (Miracleman). Um personagem criado na década de 50, por Mick Anglo. Moore brincou com o espírito definido de herói, introduzindo uma temática mais sombria e adulta para a trama.

Mais uma vez, também na década de 80, ele desconstrói todo o conceito do Herói, em sua icônica obra em parceria com Dave Gibbons: Watchmen (Em breve mais sobre Alan Moore, Miracleman e Watchmen).

No entanto, nosso Superman continuava sendo um exemplo do herói clássico, e mesmo com algumas pessoas falando como é complicado escrever uma história para ele com todos os seus poderes e sua personalidade ultrapassada, o Mago inglês dos roteiros, Alan Moore (SIM!), nos mostrou em duas grandes histórias, uma verdadeira aula de como escrever o Sr. Clark Kent. As histórias são: “Para o Homem Que Tem Tudo” e “O Que Aconteceu ao Homem do Amanhã?”. Também conhecida como “O que aconteceu ao homem de aço?”.  Histórias simples, mas trazendo todas as dores de Kal-el e todo seu sacrifício.

Os filmes inclusive mantinham essa aura de pureza e definições do que é certo e o que é errado.

Mas o mundo mudou, a prova disso foi o fracasso do filme Superman: O Retorno. Dirigido por Bryan Singer (Os Suspeitos, X-men). O filme foi uma sequência direta dos filmes do Richard Donner, trazendo aquele personagem heróico, ingênuo e com um senso de dever muito bem definido. O filme não agradou, pois tinha uma linguagem datada e o público já não aceitava aquele escoteiro, o expectador exigia algo mais obscuro e denso.

Eis que chegamos em Man Of Steel, e apesar de gostar do filme, e ter adorado vários conceitos empregados na película, para mim (e é uma posição extremante pessoal) o filme falha como um filme do Superman e falha como um filme do herói clássico.

A visão do diretor Zack Snyder é extremamente bidimensional, nos mostrando um herói que ainda não entendeu o peso que carrega nos ombros, que não visualizou que ele, acima de tudo, é um exemplo, um guia para o homem comum. Por isso não o considero um filme do Superman (tanto que ele não carrega esse nome em seu título).

Um dos poucos respiros de histórias bem feitas com os conceitos clássicos de como um defensor da humanidade deve realmente agir, foi na história que saiu na Action Comics 775, e magistralmente adaptada na animação Superman VS a Elite. Uma crítica bem pontual sobre o papel dos seres superpoderosos na sociedade, com a postura do Superman de não ultrapassar os limites da moralidade.

O mundo mudou, e muito do que foi escrito teve que ser atualizado, a prova disso é o ícone do que é ser super-herói ter passado por novas leituras, novos conceitos. E muito do que ele foi em seu passado, deixou de funcionar para o novo público. Mas a mensagem que Kal-el nos trouxe, o símbolo que ele apresenta, é muito maior, e gostaria muito de ler uma história aonde os roteiristas lembrassem acima de tudo que antes de ter poderes quase divinos, ele é acima de tudo um herói.

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