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A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (2017) | Crítica SEM SPOILERS

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A convite da Espaço Z nós do Multiversos fomos conferir a cabine de um dos filmes mais aguardados do ano, Ghost in the Shell: A Vigilante do Amanhã, e trazemos para vocês o nosso parecer.

Cyberpunk, um estilo literário que apresenta possíveis futuros onde homem e tecnologia vivem em comunhão, mas onde o dia-a-dia não foi melhorado por isso. Mesmo tendo acesso a tecnologia, a humanidade vive em baixas condições, com abismos sociais claros e dominados por grandes corporações que ditam as regras de uma sociedade doente e interconectada.

Tendo artistas como George Orwell em 1984Aldous Huxley em Admirável Mundo Novo como precursores, Philip K. Dick com toda sua obra e a obra mais proeminente, Neuromancer, de William Gibson, fundamentaram esse cenário de um futuro mais pessimista. O cinema trouxe Blade Runner de Ridley Scott, uma adaptação do conto Andróides Sonham com Ovelhas Elétircas? de K.Dick, Matrix das Irmãs Wachowski, Robocop de Paul Verhoeven e outros. HQs como o inglês Juiz Dredd, o americano Marshall Law, o italiano Nathan Never e os japoneses Akira de Katsuhiro Otomo, e de Masamune Shirow, Appleseed e Ghost in the Shell.

Ghost in the Shell, obra de Shirow, lançado em 1989, no Brasil foi publicado pela Editora JBC, tornou-se um dos maiores expoentes do gênero e também um dos difusores dos mangás no ocidente. O longa animado dirigido por Mamoru Oshii em 1995, solidificou mais ainda a obra no cenário cyberpunk e do cinema e é considerado uma das melhores animações da história. Uma obra respeitada por diretores como Steven Spielberg e James Cameron, que inspirou diretamente as Lilly e Lana Wachowski quando conceberam Matrix  e influenciaram uma gama enorme de artistas pelo mundo. A obra de Shirow gerou diversas obras seguintes, como duas continuações em quadrinhos, dois longas em animação, uma série animada pra TV com duas temporadas e diversos contos (novels).

Com toda essa bagagem, o filme de Rupert Sanders (de “Branca de Neve e o Caçador”) vem como Scarlett Johansson no papel principal, interpretando a Major, líder de campo da unidade militar Setor 9. Com a chefia geral de Aramaki (Takeshi Kitano) e tendo membros aliados no setor como Batou (Johan Philip “Pilou” Asbæk) e Togusa (Ng Chin Han), eles tem que combater a ameaça de Kuze (Michael Carmen Pitt), cyberterrorista que vem atacando a Hanka Robotics, empresa que criou o corpo ciborgue da Major, num projeto liderado pela Dra. Ouélet (Juliette Binoche) e o CEO da Hanka, Cutter (Peter Ferdinando) e, no meio desse caso, a Major começa a ter vislumbres e dúvidas sobre o seu passado, que continua uma incógnita até para ela mesma.

Como foi visto nos trailers, o resultado visual do filme é espetacular! Toda a gama visual que um universo cyberpunk pode possuir está lá, indo do neon onipresente e ultra colorido aos sujos e úmidos becos entupidos de fiações num cenário cinza-azulado, que remetem diretamente às descrições de William Gibson em Neuromancer. Todas as vestimentas e veículos são muito influenciadas pela visão de futuro que se tinha nos anos 1980, e a arquitetura geral da mega cidade remete a uma Hong Kong anabolizada e ao mesmo tempo ultra-cosmopolita com gente de todos os lugares.

A trama é bem linear. Bem contada e com um ritmo bem construído, mesclando bem a ação e os momentos mais policiais e até pessoais, tudo isso contado em enxutos 107 minutos, algo bem-vindo e fugindo da tendência moderna de filmes com 2 horas e meia.

Um dos maiores medos, de que a obra não usasse ou deturpasse o material original cai por terra aqui. O filme é reverente e respeitoso ao material fonte. Visualmente apegado ao longa metragem animado de Mamoru Oshii, o filme atinge níveis de similaridades altos, com cenas replicadas em detalhes e que captam bem a essência do mangá e, mesmo com todas essas referências, o filme tem a sua história própria pra contar.

O elenco está muito bem aqui. Kitano faz de Aramaki aquele líder de presença firme e segura e de bom coração, mas que não hesita na hora de sujar as mãos. Batou é o ‘brucutu’ sacana e carismático e o seu melhor amigo. Togusa é o parceiro centrado e correto no trabalho e a escalação cosmopolita do Setor 9, com membros de várias etnias foi um acerto. O Kuze de Michael Pitt acerta em ser sucinto, ameaçador e freak. O grande destaque é realmente a Major de Scarlett Johanson, a sua versão da personagem tem coisas da versão fanfarrona do mangá como também possuí a introspecção do longa animado e consegue adicionar um ar de dúvida e descoberta necessários, mesclados com a expressão fria e robótica que ela já fez bem em Lucy e em Sob a Pele.

A trilha sonora mostra-se acertada, trazendo o clima certo com batidas techno-industriais e sintetizadores eletrônicos ao fundo.

Alguns pequenos clichês chegaram a me incomodar, mesmo eu entendendo suas colocações no roteiro, e alguns diálogos soaram desnecessários.

Recomendo ver em IMAX, mesmo com o 3D sendo irrelevante aqui.

A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell conseguiu quebrar a barreira negativa de obras oriundas de mangás/animes que sempre davam errado. A obra abraça de forma correta não somente ao material fonte, mas como também as obras que influenciaram  Masamune Shirow e tem seu acerto ao ser conduzido pelo talento de Scarlett Johansson, um bom roteiro, visual impecável e não posso negar a minha alegria em ver a volta do cyberpunk ao mainstream, embalado num excelente entretenimento.

A Vigilante do Amanhã - Ghost in the Shell (2017)
  • Direção
  • Elenco
  • Fotografia
  • Roteiro
4

Resumo

Um bom roteiro, visual impecável que tem seu acerto ao ser conduzido pelo talento de Scarlett Johansson. Consegue quebrar a barreira negativa de obras oriundas de mangás/animes que sempre davam errado.

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