Atômica (Atomic Blonde), dirigido por David Leitch (‘John Wick – De Volta ao Jogo’ e ‘Deadpool 2’) novo longa estrelado por Charlize Theron, com James McAvoy, John Goodman e Sophia Boutella, a partir da adaptação da História em Quadrinhos “Atômica: A Cidade Mais Fria”, escrita por Anthony Johnston e desenhada pelo brasileiro Sam Hart, chegou aos cinemas no próxima dia 31 de agosto. Nós do Multiversos, a convite das nossas parceiras e amigas do Espaço Z, conferimos a cabine de impressa deste belo longa.
Berlim, 1989. Os lados ocidental e oriental da cidade estão em ebulição. O povo já não está aguentando mais um muro dividindo o seu povo. Rebeliões, passeatas e movimentos pedem a queda do Muro de Berlim. Em meio a isso tudo a agente secreta do MI6, Lorraine Broughton (Teron), tem a missão de entrar disfarçada na capital Alemã, a fim de resgatar o corpo do agente James Gascoine e a lista que ele levava, uma lista que põe em risco todos os agentes de campo de várias agências aliadas e que, se cair nas mãos dos Russos, muitos morrerão. Para esta missão, Lorraine terá ajuda de David Percival (McAvoy), um agente infiltrado MI6 em Berlim, mas que não é lá muito confiável e Lorraine tem apenas uma recomendação de seus superiores: não confie em ninguém.
O roteiro adaptado por Kurt Johnstad (a partir do trabalho no quadrinho feito por Johnston e Hart) segue muito bem as regras dos jogos de traição e morte dos espiões. O tempo todo Lorraine é posta a prova, seja no interrogatório com seus superiores ou durante a missão, e assim vai se se virando em Berlim, encontrando as pistas sobre a lista e caindo na porrada com quem tenta matá-la. Essa tensão é sempre constante na narrativa e isso deixa o ritmo do filme muito bom, intercalando o interrogatório com a missão e, mesmo tendo uma “barriga” entre o segundo e o terceiro ato, o filme segue bem.
Jonathan Sela sabe muito bem como usar a fotografia, seja criando planos abertos para mostrar bem a decadência da Berlim Oriental e a efervescência pop do lado Ocidental, como os planos certeiros durante as lutas, aqui também auxiliado por Leitch e seu domínio em cenas de ação adquirido pelo seu vasto trabalho como dublê, usando em todo momento uma luz azul neon, nos momentos da missão, e branca, durante o interrogatório, sempre contrastando com vermelho, uma cor que transborda aqui, remetendo aos teores violentos e lascivos que ela possuí. Adicionado a esse apuro temos a edição de Elisábet Ronaldsdottir, que se utiliza de vários recursos como mudança de planos usando foco, câmera girando para mostrar personagens, planos detalhe e até mesmo um “falso” plano sequência excelente e visceral. Zsuzsa Kismarty acerta nos pequenos detalhes oitentistas que enriquecem os cenários, dando verossimilhança aliada ao exagero que essa década teve em seu cerne.
As lutas merecem um destaque porque é aqui onde Leitch mostra seu melhor. As coreografias são claras e simples. Ele desenvolveu pra Lorraine um estilo baseado em golpes curto e eficientes. Nada de chutes altos ou sequências gigantes. São chutes e socos bem colocados para derrubar o oponente. A câmera sempre posicionada de forma precisa, para deixar o espectador ver a luta, sentir as porradas ou, em momentos precisos, mostrar a habilidade de Lorraine. Coisa linda se ver mesmo e, diferindo de John Wick, as lutas aqui são mais secas, com golpes e consequências nos lutadores, mostrando que a luta os afeta e que os resultados são mais brutais do que caricatos.
Charlize Theron está magnifica aqui. Ela já tinha mostrando antes que papeis que exigissem uma atuação mais física, leia-se mais porradeira, como em ‘Mad Max: A Estrada da Fúria’ e ‘Æon Flux’, mas aqui a atriz extrapola esses limites porque consegue ser elegante, sexy e incrivelmente habilidosa nas cenas de ação, e quando o texto exige mais cinismo e diálogos ela também não fica atrás. Theron é a dona do filme e isso se não fosse por todo o trabalho fantástico atriz, James McAvoy teria roubado a cena com seu Percival, completamente amoral, boca suja e safado. McAvoy é, pra mim, um dos melhores de sua geração e aqui mais uma vez ele prova isso. John Goodman é sempre o coroa sisudo e a Sophia Boutella se sai bem como a jovem espiã.
A trilha sonora, vinda direta dos anos 1980, regada a George Michael, Queen e The Clash está corretamente bem encaixadas. As músicas não são elementos vitais pra trama e, sim, ilustram muito bem o momento em que o filme se passa, indo e vindo corretamente na edição do longa.
Atômica é um filme de espionagem que se leva á sério de forma segura. O longa traz uma história pra contar e a conta muito bem. Apoiando-se na carisma de sua protagonista vivida brilhantemente por Charlize Theron, o filme é um divertido conto de espiões regado a brutalidade, sensualidade e mentiras num mundo neon dos anos 1980. Só não confie no que você vê, e lembre -se que: “São tão simples os homens e obedecem tanto às necessidades presentes que quem engana encontrará sempre alguém que se deixa enganar”.