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Aurora | Crítica à HQ e entrevista com o autor Felipe Folgosi

HQ brasileira de ficção científica de qualidade! Aurora faz jus à boa fase dos quadrinhos nacionais nos últimos anos.

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Em pleno mar, o pescador Rafael presencia um fenômeno cósmico que, sem ele saber, mudará sua vida para sempre. (Obs.: só para constar, fica registrada a minha indignação aqui: o nome do protagonista da história poderia ser melhor…) *

É assim que nos sentimos quando nos despimos dos pré-conceitos (com relação ao autor ou ao fato de ser quadrinho nacional) e começamos a ler Aurora. Somos atingidos por um fenômeno, assim como pescador Rafael foi, e, assim como a ele, somos apresentados a um novo universo cheio de expectativas e novas possibilidades. Ciências e medicina oncológica avançadas, telecinesia, telepatia… Assuntos complexos, mas bem amarrados dentro da estrutura narrativa do roteiro, de tal sorte que a leitura das suas 108 páginas é inteiramente empolgante, e em nada cansativa ou maçante.

Essa página foi apresentada assim durante o Catarse, antes do lançamento da revista. Na versão final a página está diferente.

A exposição de Rafael ao fenômeno cósmico tem, claro, consequências negativas ao corpo. [Spoiler Alert… 😛 Coisa pouca, prometo!] Uma delas se torna uma das mais interessantes ferramentas do roteiro. O desenvolvimento de pontos cancerígenos (nesse caso mielomas) por parte do protagonista e os seus ‘significados’ são um ponto enigmático e muito bem conduzido na sequência, mantendo lado-a-lado a ciência e a fé, ou o desconhecido.

Apesar de se utilizar do antagonista mais recorrente em histórias voltadas à nossa época atual, a utilização do governo americano como perseguidor é bem abordada e traz consigo todas as referências que já conhecemos bem de outras mídias, e todas muito bem utilizadas: agentes “Smith” com seus ternos e óculos escuros, grupos de elite de invasão e contensão, superiores enigmáticos… Tudo está ali. Inclusive com seus aparatos de tecnologia de ponta. E aqui vale ressaltar o apoio da LG, que foi um dos parceiros de Felipe na revista, e está devidamente “creditado” nos equipamentos utilizados na obra.

O traço de Leno Carvalho com arte-final de Nelson Pereira em nada fica devendo à qualidade dos quadrinhos americanos que consumimos por aqui. A sensação de velocidade, movimento e dinamismo nas cenas de ação e os bons quadros para os momentos de drama dão os tons certos aos momentos certos. As cores da revista também são um espetáculo à parte, com destaque especial para as cenas de relâmpagos logo no início.

Se existe um ponto relativamente chato, à primeira vista, é a abundância de termos científicos e técnicos, que, talvez, para uma melhor imersão na estória se faça necessária uma “googlada”. Mas nada que comprometa, muito, a compreensão e o ritmo do roteiro.

Essa página também foi modificada na versão final.

Com uma ótima narrativa, trama envolvente, adrenalina, romance, senso de moral, religião e sociedades secretas, tudo isso apresentado de forma crua, mas bem encaixada e singular, faz de Aurora, apesar de poucos percalços que não merecem nem a menção diante da qualidade final do produto, um quadrinho maduro e de qualidade. E o melhor, totalmente brasileiro.

*Nota do editor: o Rafael que o Clésio quis “tirar sarro”, sou eu. ¬.¬

Entrevista com Felipe Folgosi na CCPX 2016

Sim, o Rafael estava emocionado.

Durante a CCXP 2016, em dezembro, nós do Multiversos tivemos a oportunidade de conversar um pouco e entrevistar o autor de Aurora, Felipe Folgosi. Infelizmente, como aconteceu com todas as nossas entrevistas lá, ouve problemas com a câmera e muito do que gravamos se perdeu, mas o áudio estava salvo separadamente e transcrevemos aqui para vocês a nossa entrevista.

Multiversos: Como surgiu o interesse para roteirizar o quadrinho Aurora e como foi o processo de criação?

Felipe: Na verdade, eu sou fã de quadrinhos desde criança, cresci lendo, depois fiz faculdade de cinema e, um tempo depois, eu quis unir as duas coisas. Comecei escrevendo peças de teatro, roteiro de cinema, até colaborei com alguns jornais como o Folha de São Paulo. Mas no final de 2002 voltei dos Estados Unidos, depois de uma temporada de dois anos estudando roteiro lá, comecei a escrever cinema e Aurora foi um desses roteiros, que é uma história de ficção cientifica, com muita ação e muitos efeitos. Então, a princípio, como o cinema brasileiro ainda estava na retomada e eu não via muita perspectiva de fazer o Aurora como filme, pois seria muito caro, eu resolvi adaptar para quadrinho, porque são linguagens muito próximas e o cinema bebe dos quadrinhos a muitos anos.

(Multiversos: …e hoje em dia muito mais!)

Né! Então eu adaptei o Aurora para o quadrinho. Contratei um time de artistas de primeira: Leno Carvalho fez a arte, tem um time de coloristas, o Stefani Rennee, Márcio Menyz, Carlos Lopez , Thiago Ribeiro, Rodrigo Fernandes e o Marcio Freire. Lancei a revista ano passado [2015] e estou super feliz com a receptividade, o pessoal que já comprou ano passado vem falar comigo: “Pô, gostei de mais! Que bacana!”. Mesmo nas redes sociais, hoje em dia, é muito fácil o pessoal falar com você, então estou super feliz com o retorno do Aurora.

M: Vamos falar sobre o pós-Aurora, o teu trabalho novo. Como está a produção do novo quadrinho?

F: Estou em processo de produção do Comunhão, que é o meu novo quadrinho, uma história diferente, de suspense com um terror psicológico, muita adrenalina, vale a pena também, mas é isso… demora, né…

Agora o JB Bastos. que é o artista, ele está fazendo aquela coisa manual, então estou dependendo dele (risos). Eu queria já ter lançado nessa Comic Con [2016], mas não deu tempo.

(Multiversos: …muita gente querendo a HQ!)

Muita gente! (risos). Você acabou de ver gente que colaborou no Catarse passou e perguntou: “Poxa, e o Comunhão?!”, mas vai sair, uma hora sai e vale a pena, porque é uma história muito bacana!

M: Com essa retomada do cinema brasileiro, como você citou, estamos vendo casos que a gente está muito feliz como, por exemplo, a série 3% da Netflix. E o sonho de trazer suas histórias para o cinema ou para a TV como série, isso existe para o Felipe Folgosi roteirista de quadrinhos?

F: Sim, existe. Tenho projetos paralelos, tanto para TV à cabo, como para cinema mesmo, e espero conseguir concretizá-los em 2017.

M: Você pode dizer quando será lançado o Comunhão ou alguma novidade para a gente ficar na expectativa?

F: Olha! Para não cria falsas expectativas (risos), até o meio do ano [de 2017] com certeza devo lançar.

E o Cleyton também aproveitou a oportunidade pra encher a mamãe de orgulho: “Meu filho tirou foto com o rapaz da novela…”, ela falou pra todo mundo. 😛

 

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