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Capitã Marvel | Crítica (Com Spoilers)

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Um retrocesso no filmes da Marvel.

A espera acabou e finalmente Capitã Marvel chegou aos cinemas! Além de apresentar e estabelecer a personagem, o filme solo da primeira protagonista feminina da Marvel chega com a importante missão de fornecer algumas respostas, vitais para a integração da Capitã na trama de Vingadores: Ultimato.

Com certeza classificá-lo como um dos piores filmes da Marvel, como muitos tem feito, é um exagero. Mas é fato que se trata de um filme de origem que não se apresenta como tal, graças à estrutura narrativa que não funciona, não estabelece adequadamente a personagem, não gera empatia e nem prepara a audiência para o clímax do filme.

O problema continua com o ritmo do filme, que é lento em seu primeiro ato, não empolga e, por vezes, a maneira como os elementos são ordenados em cena confundem o expectador. Talvez este fato possa ser encarado como um recurso de roteiro para sentirmos na pele o dilema da protagonista confusa, graças à perda de memória, mas, em minha opinião, não funcionou.

Do segundo ato em diante a trama anda e o ritmo engrena de uma forma até agradável, o que não agrada é a maneira escolhida pelo roteiro para contar sua história, que preferiu mostrar o passado da personagem através de flashbacks à medida que a personagem vai descobrindo os detalhes de seu passado e montando o quebra-cabeça estranhamente simples de suas origens. Esse estilo de narrativa não é nenhuma novidade e, normalmente, funciona. Mas, no caso da Capitã Marvel, não funcionou. A jornada linear — onde o personagem recebe os poderes, tenta aprender e se adaptar a eles, recebe a carga dramática e, a partir daí, desenvolve suas motivações sólidas e assume de vez o manto do herói, — ainda é, pra mim, a melhor maneira de apresentar um herói/heroína em um filme de origem.

A Capitã desde o início é apresentada com grandes poderes que só aumentam com o avançar do filme. O longa acerta ao estabelecer Carol Danvers, Brie Larson, como uma das figuras mais poderosas do MCU, mas falha terrivelmente em conquistar nossa simpatia, já que nem a jornada e nem a Guerra Kree-Skrull como pano de fundo oferecem um cenário adequado para a criação da empatia entre público e personagem.

O roteiro tem, sim, alguns bons acertos: se mantém fiel a vários elementos dos quadrinhos que o inspiraram e prefere valorizar a protagonista como um ponto de afronta ao machismo, imperante na sociedade na década de 90. É uma maneira de discursar e de apresentar o empoderamento feminino de uma maneira natural, sem que soe como impositivo ou panfletário. Este é um discurso interessante que fará com que muitas pessoas se apeguem ao filme, não pela narrativa em si mas por, de alguma forma, se sentirem representadas.

Ainda que a escolha para a narrativa não tenha se mostrado a mais adequada existe verdade na construção da personagem. Porém, a necessidade de fornecer muitas respostas, tanto para o filme da Capitã Marvel quanto para o universo compartilhado como um todo, expõe algumas incoerências e soluções de roteiro bem ruins, como: o olho de Nick Fury, a mudança das cores do uniforme e até a estranha aparição do Tesseract são exemplos disso.

Os diálogos do filme, em sua maioria, são bons. Há ótimas conversas, principalmente entre nossa protagonista e Nick Fury. Muitas destas conversas terminam em alívios cômicos, que, aliás, são muito bem inseridos e não comprometem a imersão do filme.

Falando um pouco mais do Nick Fury de Samuel L. Jackson, vemos uma versão muito mais leve e divertida do personagem que nutre até uma certa dose de ingenuidade em relação a alguns assuntos. Fury promove momentos muito engraçados, com frases ótimas em momentos muito pontuais, muito diferente do sisudo e até pouco confiável diretor da SHIELD que conhecemos desde o primeiro filme do Homem-de-Ferro (2008).

“Acho que vi um gatinho!”

O agente Coulson (Clark Gregg) também está de volta. Além de funcionar como um “fan service” muito apropriado, aqui podemos ver a origem da amizade e confiança estabelecida entre o agente e Nick Fury.

Lashana Linchy vive Maria Rambeau a melhor amiga da protagonista e responsável tanto por humanizar a personagem como por conduzi-la ao conhecimento de sua antiga vida. Neste pequeno núcleo chama à atenção a filha de Maria Rambeau, Monica (Akira Akbar) que nos quadrinhos é uma heroína muito poderosa chamada Espectral, será que teremos mais uma heroína da Marvel chegando aos cinemas no futuro? Uma versão de Jovens Vingadores? O futuro dirá!

Dos coadjuvantes quem mais me chamou a atenção foi Anette Bening, que vive Mar-vell. O mentor da Capitã nos quadrinhos foi adaptado para uma versão feminina, algo que, aliás, fez todo o sentido, considerando não só a proposta e o discurso do filme, mas a maneira como a história se desenvolve. Assim como os demais personagens falta a esta versão de Mar-vell um desenvolvimento melhor.

“Mais alto! Mais longe! Mais rápido!”

Mas claro que ninguém chamou mais a atenção que Brie Larson na pele de Carol Danvers/Capitã Marvel.

Brie Larson é uma atriz incrível e muito versátil, que consegue se adaptar e dar vida aos seus personagens de maneira muito realista. Neste filme por mais que a narrativa a prejudique, Brie Larson entrega uma personagem de personalidade forte e muito determinada, mas que se diverte ao usar seus poderes e ver o que suas habilidades podem fazer, além de ser leal e demonstrar um senso de justiça enorme. Neste filme em si a atuação de Brie Larson funciona, resta saber como a atriz irá assimilar o tamanho da importância de sua personagem mediante os fãs, como um símbolo deste universo cinematográfico, considerando principalmente que os planos da Marvel de que a personagem poderá suceder Homem-de-Ferro e o Capitão América como grande protagonista do MCU a partir da fase 4.

Quanto à ameaça do filme, depois de Killmonger (Pantera Negra, 2018) e Thanos (Guerra Infinita, 2018), mesmo que velada à expectativa para mais um vilão bem construídos, cheio de camadas e com motivações até certo ponto plausíveis, era clara! Mas nada disso aconteceu. Na verdade as ameaças do filme são personagens superficiais, que em momento algum representam um perigo à personagem.

A guerra Kree-Skrull, que serviria como pano de fundo para desenrolar da história, não ganha nem o desenvolvimento nem a carga dramática esperada e, inclusive, a abordagem dada aos Skrulls, os afastando da raça ameaçadora e destrutiva vista nos quadrinhos, me incomodou bastante. Funciona dentro da trama, mas agride a essência da raça nos quadrinhos e encerra a possibilidade da adaptação de excelentes histórias dos Skrulls nos quadrinhos.

Ben Mendensohn como Talos, líder dos Skrulls

Nem mesmo os Kree são desenvolvidos adequadamente e, em um certo ponto de virada, suas reais atenções (não exatamente motivações) são relevadas, mas ninguém personifica um antagonismo de peso. Ronan, o Acusador (Lee Pace), por exemplo, tem uma participação discreta, mesmo os membros da força-tarefa que a Capitã Marvel integrava, a Star Force tem um destaque maior.

Essa abordagem atinge também o “maior” antagonista da trama, Yon-Rogg, interpretado pelo competente Jude Law, que tem seu papel na trama, na origem/criação da personagem assim como no confronto final do filme, que, aliás, empolga mais por termos uma noção da extensão e dimensão dos poderes da Capitã Marvel, do que necessariamente pela expectativa do enfrentamento.

Jude Law, como Yon Rogg, e Lee Pace, como Ronan.

Aliás, falando em confrontos, as cenas de ação também não são satisfatórias. Há cortes excessivos e enquadramentos próximos demais que deixam as cenas confusas e tiram toda a contundência do combate e, como nada representa uma ameaça real à protagonista, tudo fica muito vazio e artificial.

A fotografia agrada principalmente ao reproduzir a beleza e a particularidade dos ambientes alienígenas, além de valorizar a expressão facial dos personagens em certos diálogos. A ambientação é bem-feita, reproduzindo a atmosfera dos saudosos anos 90 com figurinos e ambientes que aprofundam nossa imersão no filme.

O filme alterna partes sombrias com momentos iluminados com cores saltando aos olhos. É mais um filme de herói que não tem vergonha de usar as cores, ainda que o faça em escala menores do que visto, por exemplo, em Thor: Ragnarok e Guardiões da Galáxia.

A trilha sonora além de valorizar e se encaixar muito bem nas cenas, é um tributo a nostalgia musical dos anos 90 com direito a Nirvana, R.E.M, entre outras. Já os efeitos especiais não incomodaram a versão final, o filme apresentou cenas com computação gráfica mais polida do que vimos nos trailers e o visual dos Skrulls, criticado nas prévias, a meu ver, também não comprometeram.

Como era de se esperar Capitã Marvel tem uma chuva de easter eggs e referencias tanto aos anos 90 quanto ao MCU como um todo, inclusive uma nova luz sobre a Iniciativa Vingadores.

Os diretores Anna Boden e Ryan Fleck entregaram uma história que busca um certo equilíbrio, mas se perde em meio a uma narrativa e a vários elementos que acabam não funcionando. Não é ruim, mas não é tão bom como precisava ser.

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