Monster Hunter, marca o retorno do diretor e também roteirista, Paul W.S. Anderson, ao mundo dos videogames nos cinemas e mais uma vez o diretor escolhe adaptar uma franquia da Capcom.
A Tenente Artemis (Milla Jovovic) e seu time partem em busca de resgatar uma equipe desaparecida, quando acabam sendo transportados para um mundo misterioso, que possui monstros gigantes. Artemis precisa encontrar como retornar ao seu mundo com a ajuda do Caçador (Tony Jaa).
Anderson é um criador que fez uma longeva carreira trabalhando com adaptações de jogos de videogames, do hoje cultuado Mortal Kombat (1995) à cine-série Resident Evil, onde teve como atriz principal Mila Jovovich. Anderson é um autor amado e odiado. Enquanto alguns odeiam as suas obras por nunca seguirem com fidelidade o material base, outros adoram o seu cinema explosivo e alucinado, cheio de pirotecnias e efeitos especiais. Ele também faz filmes baratos em sua produção gerarem rios de dinheiro, o que acaba sempre abrindo novas portas para o seu trabalho.
Aqui em Monster Hunter ele não foge em nada de seus trabalhos prévios. Os personagens são jogados na trama e, com exceção de Artemis e do Caçador, o restante do elenco tem somente funções narrativas e incorporam estereótipos padrões desse tipo de enredo. Dá pra fazer um bingo de quem é cada um em tela (a latina, o negro, o asiático, o canastrão, o sisudo e etc. e etc. …) e como eles vão morrer e fechar a cartela rapidinho.
A história é básica e simples. Protagonista surge, tem um desafio, surgem os conflitos e temos uma resolução. Com uma estrutura de atos que acaba apressada em seu inicio e segue em constante velocidade o tempo todo, com pequenos respiros para alguma cena expositiva, até o seu final. Os diálogos são fraquíssimos, e dá até para adivinhar alguns segundos antes deles surgirem em tela. O clima do longa muda o tempo todo, nunca se decidindo se é um suspense, um filme de guerra, um horror splatter ou um filme de ação alucinada.
Monster Hunter praticamente não possuí trilha sonora, focando-se mais na edição de som ultra barulhenta e exagerada, que oscila entre silêncios e explosões ensurdecedoras numa fração de segundos. Segundos esses que estão na edição nervosa e picotada que é utilizada nas cenas de ação. Nenhum take dura mais do que 3-5 segundos. Deu até para brincar de contar nos dedos… 1, 2, 3, corta… 1, 2, 3, 4, corta. Esse recurso acaba deixando as cenas tão frenéticas quanto ilegíveis durante a projeção. Essa edição acaba fazendo com que o filme seja sempre acelerado e esteja sempre em movimento.
O design de produção oscila em aproveitar bem as locações físicas, gerando até um alívio nos olhos, o que já difere quando o CGI é usado em tela. Os figurinos são bregas, mas que funcionam devido o clima do filme também ser assim. A fotografia do filme é o seu melhor elemento técnico, mesmo quando usa indiscriminadamente takes panorâmicos, sem que eles possuam função narrativa coerente, ou quando tenta explorar emoções inexistentes num close dos monstros de CGI. Os efeitos visuais são práticos e bem utilizados nas criaturas, mas há momentos que as coisas derrapam feio, como personagens flutuando ou descolados demais da cena.
Sobre a adaptação em si, eu confesso não ser um jogador inveterado da franquia, mas sei que um dos grandes charmes do jogo é enorme gama de fauna e flora que os mundos de Monster Hunter possuem. Isso praticamente foi limado do filme por escolhas narrativas claras e até mesmo pelo curto orçamento, que fica evidente em alguns momentos, e somente alguns poucos e famosos monstros aparecem em tela.
Milla Jovovich já faz esse tipo de papel no automático e seu diretor, e também marido, não a força em momento algum à sair de sua zona de conforto. Tony Jaa acaba sendo carismático devido à sua simplicidade. Ron Pearlman conseguiu o prêmio de pior peruca/penteado que eu já vi em um filme e o restante do elenco é praticamente um easter egg em tela e, ah… procurem a brasileira Nanda Costa no filme. Se piscarem, perdem a participação dela.
Monster Hunter é um filme com o DNA de Paul W. S. Anderson. Barulhento, exagerado, pouco reverente ao seu material fonte e com um fiapo de enredo. Eu já sabia exatamente o que o novo filme traria, e até consegui encontrar um valor de entretinimento no longa, que tem potencial de agradar espectadores casuais e fãs de longa data do diretor, mas que fará pessoas mais exigentes e fãs do jogos saírem insatisfeitas da sessão.
Nascido em Fortaleza, trabalha profissionalmente com quadrinhos e ilustração desde 2005, quando começou a vender seus trabalhos pela Internet em sites de vendas como o E-Bay. Trabalhou para editoras norte-americanas, ministrou aulas de desenho e quadrinhos, e vem participando de diversos eventos nos Artists’ Alleys e em painéis sobre cultura pop, quadrinhos e artigos/notícias para o site do Dínamo Studios, do artista Daniel HDR.