Corra! (Get Out – 2017) é estréia do comediante Jordan Peele (Keanu) na direção, aqui assinando também o roteiro do longa. Como novato na direção, poderia-se esperar mais uma comédia besteirol americana ou até mesmo mais um desses filmes de horror gore que atraem hordas de adolescentes e matam outros adolescentes na tela em exata proporção, mas Peele tem uma historia pra contar.
O diretor, Jordan Peele.
O filme nos apresenta ao talentoso fotografo Chris Washington (Daniel Kaluuya), nervoso porque visitará a família de sua namorada, Rose Armitage (Allison Williams). Até aí, um medo normal de um namorado, porém há um elemento à mais: Chris é negro e os Armitage são brancos de uma família de base tradicional do interior americano e, mesmo com Rose explicando que seus país, o médico Dean Armitage (Bradley Whitford) e a sua mãe, a psicóloga Missy Armitage (Catherine Keener), são bastante liberais e até um pouco exagerados, eles irão recebe-lo bem.
Nem mesmo as piadas de seu melhor amigo, o Guarda de Supervisão do Aeroporto Rod Williams (LilRel Howery) o acalma. Ao chegar, Chris se depara com outros membros da família, como o irmão babaca de Rose, o também médico Jeremy Armitage (Caleb Landry Jones) e os cuidadores da casa, o caseiro Walter (Marcus Henderson) e a Governanta Georgina (Betty Gabriel), ambos negros, e mesmo os Armitage se mostrando grandes anfitiões, Chris continua muito incomodado com tudo ao seu redor.
Daniel Washington (Daniel Kaluuya)
O incomodo gera uma tensão constante e é o fio condutor de Corra!. O texto de Peele é claro e direto: o preconceito é seu mote real aqui e ele nunca deixa o espectador descansar, com diálogos afiados e momentos idem, tudo isso gerando um excelente ritmo à trama, que mesmo com as piadas sacanas e escrotas muito bem colocadas nos momentos que Rod entra em cena, a tensão e as ‘enfiadas de dedo na ferida’ são constantes aqui.
Daniel Kaluuya capitaneia o excelente elenco. Já tendo feito obras como Black Mirror, Kaluuya encarna muito bem as tensões, dúvidas, raivas e medos do seu personagem. Williams e os Armitage encarnam aquela família de comercial de margarina assustadoramente bem-estruturada. Henderson e Gabriel encarnam Walter e Georgina numa atuação assustadora e Howery abraça o humor pesado e ácido como poucos.
Toby Oliver criou uma fotografia excelente, trazendo a sensação de medo com a utilização de planos abertos, e quando fecha a câmera, se apropria de distorções pra reforçar o nervosismo da trama. Outro grande acerto é a paleta de cores do filme, que caminha entre amarelo-verde-azul e quando contrastes surgem com o branco/preto e vermelho surgem, eles brilham e saltam na tela e, diferente da gratuidade de filmes de horror fracos, os efeitos visuais servem muito ao enredo aqui.
Georgina (Betty Gabriel)
A trilha sonora é excelente aqui, desde a tensa Sikiliza Kwa Wahenga (que está ali em baixo pra você poder ouvir) até momentos mais ternos são carregadas de músicas que, mesmo calmas, passam bem a sensação de caos antes da tormenta e é excelente ouvir uma edição de som trabalhando tão bem em favor da trama.
Esperto, ousado, assustador, tenso e, acima de tudo, pontual e moderno. Como um espelho na nossa cara, Corra! é uma fábula satiricamente má sobre o preconceito existente em nosso tempo. Preconceito meu e seu, porque sabiamente o filme não poupa ninguém e enfia o dedo na ferida com maestria se apropriando das ferramentas narrativas do gênero do horror e indo além, incomodando e entretendo o seu público. Num mundo ideal, Corra! não existiria, mas esse mundo ainda precisa de muito trabalho pra existir.
Corra!
Roteiro
Elenco
Fotografia
Direção
4.6
Resumo
Esperto, ousado, assustador, tenso, pontual e moderno.
Nascido em Fortaleza, trabalha profissionalmente com quadrinhos e ilustração desde 2005, quando começou a vender seus trabalhos pela Internet em sites de vendas como o E-Bay. Trabalhou para editoras norte-americanas, ministrou aulas de desenho e quadrinhos, e vem participando de diversos eventos nos Artists’ Alleys e em painéis sobre cultura pop, quadrinhos e artigos/notícias para o site do Dínamo Studios, do artista Daniel HDR.