Crítica | Capitão América: Admirável Mundo Novo – Um filme perdido entre o potencial e a execução
Longa tenta resgatar o tom político da franquia, mas tropeça em um roteiro repetitivo e na subutilização de personagens como o Hulk Vermelho, resultando em uma experiência aquém do esperado.
Desde que Sam Wilson (Anthony Mackie) assumiu o escudo do Capitão América, a Marvel tem buscado consolidar sua identidade dentro do Universo Cinematográfico Marvel (UCM). A série Falcão e o Soldado Invernal (2021) estabeleceu um tom político e reflexivo, explorando os desafios que o novo Capitão enfrentaria ao carregar o legado de Steve Rogers. No entanto, ao chegar Capitão América: Admirável Mundo Novo, a promessa de uma abordagem madura e tensa se perde em meio a escolhas questionáveis, tornando o filme uma experiência inconsistente.
Um roteiro que repete e não evolui
A premissa do filme até tem uma base promissora. O mundo pós-Blip está em uma corrida geopolítica pela extração do Adamantium, um metal que pode mudar o equilíbrio de forças no planeta. Dentro desse contexto, Sam Wilson precisa enfrentar desafios políticos e pessoais, além da sombra de seu antecessor. O problema é que a narrativa se perde em repetições desnecessárias e conveniências de roteiro que enfraquecem a experiência. O filme insiste em questionar a escolha de Steve Rogers e a aceitação de Sam como o novo Capitão, algo que já deveria estar resolvido.
Chega um momento em que a insistência nesse tema soa cansativa. Sam precisa parar de se comparar com Steve e assumir de vez o seu papel – e a Marvel precisa confiar na sua própria história em vez de ficar revisitando o passado.
Uma produção que remete aos anos 2000 – e não no bom sentido
Apesar de contar com um elenco talentoso, Admirável Mundo Novo falha em trazer o impacto esperado. As cenas que deveriam ser grandiosas perdem força, seja por uma direção sem energia, seja por escolhas visuais questionáveis. A sensação é de estar assistindo a um “filme B” de super-heróis, daqueles que eram comuns nos anos 2000, cheios de exageros cafonas e efeitos que não impressionam.
O vilão, então, é um dos maiores problemas. Caricato ao extremo, falta apenas ele girar na cadeira acariciando um gato e soltando uma gargalhada maligna para completar o clichê. A Marvel já mostrou que sabe criar antagonistas complexos, mas aqui a execução parece preguiçosa e sem profundidade. O filme tenta construir uma ameaça, mas falha em dar a ela peso real.
O brilho de Anthony Mackie e o desperdício de oportunidades
Se há algo que realmente funciona no filme, é Mackie. O ator entrega uma atuação sólida e carismática, mostrando um Sam Wilson que quer provar para si mesmo e para o mundo que pode ser o Capitão América. O problema é que o roteiro não ajuda e, muitas vezes, prende o personagem em dilemas já explorados antes.
Harrison Ford, interpretando o Presidente Thunderbolt Ross, traz uma presença marcante, mas seu tempo de tela e profundidade poderiam ser melhor aproveitados. Um dos pontos altos do filme é a introdução do Hulk Vermelho, seu alter ego monstruoso, que tinha potencial para ser um grande elemento da trama. No entanto, a aparição da criatura é extremamente breve e subutilizada, tornando-se mais um desperdício de potencial dentro do longa. A expectativa em torno desse momento era enorme, mas acaba se tornando uma decepção devido à falta de impacto e desenvolvimento.
Uma chance desperdiçada, mas não um desastre total
No fim das contas, Capitão América: Admirável Mundo Novo não é o desastre absoluto que algumas críticas fazem parecer, mas também está longe de ser um filme realmente bom. Ele tinha potencial para ser um novo Soldado Invernal, mas falha na construção da narrativa e na execução de suas ideias.
O UCM passa por um momento delicado, tentando encontrar um novo rumo após o fim da Saga do Infinito. Para seguir em frente, a Marvel precisa parar de depender do passado e confiar mais em suas novas histórias. E Sam Wilson precisa ser tratado, de uma vez por todas, como o Capitão América – sem precisar provar isso a cada novo filme.