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Demolidor: 3ª Temporada | Crítica

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Demolidor supera as expectativas com temporada eletrizante!

Demolidor, nos quadrinhos há muito o personagem sustenta a alcunha de “O Homem Sem Medo”, e basta você ler algumas das histórias do herói para que entenda o quanto o rótulo é apropriado. Em sua terceira temporada a série do Demolidor, mais um produto da parceria Netflix/Marvel, se mostra, também, digna do mesmo título.

“A Queda de Murdock?”

A temporada começa imediatamente após os eventos de “Os Defensores”. Matt Murdock está desaparecido e, com o passar dos meses, a falta de notícias faz com que seus amigos passem a aceitar que o pior aconteceu.

Mas Murdock está escondido, se recuperando de seus graves ferimentos no mesmo orfanato para onde o herói foi enviado quando criança, logo após a morte do pai. Matt não é mais o mesmo, sombrio, amargurado e muito mais violento. Sua fé sempre inabalável, que por vezes foi seu porto seguro, agora fraqueja, o que faz com que o herói questione a si mesmo, seus méritos e valores.

Andando numa linha tênue, Matt aparenta estar chegando no seu limite moral, quando o retorno de seu maior inimigo parece colocar o vigilante em um caminho sem volta. Matt mal sabe o que realmente o aguarda!

Como esperado a série é inspirada na maior história em quadrinhos do Demolidor, A Queda de Murdock. Escrita nos anos 80 pelo grande Frank Miller, a história acompanha os acontecimentos na vida de Matt após seu maior inimigo, o Rei do Crime, descobrir sua identidade secreta. O que se segue é a destruição não só da figura heroica do Demolidor, mas de todos os aspectos da vida de Matt. O arco dramático é recheado de temas fortes como drogas, prostituição, traição e outros.

A série adapta alguns elementos vistos na HQ clássica, mas o tom obviamente não é tão pesado quantos dos quadrinhos, mas ainda sim funciona muito bem dentro da proposta do enredo.

Retornos em grande estilo

Depois de ficar à sombra do Justiceiro e em meio ao seu dramalhão digno de novela mexicana com Elektra na temporada anterior, a terceira temporada deu sinais desde o início de que resgataria tudo o que a série tinha de melhor. E resgatou mesmo!

A narrativa é fluida desde seu primeiro episódio. O ritmo é cadenciado nos episódios iniciais para contextualizar o espectador dos conflitos e dilemas do protagonista, da ascensão dos antagonistas e das sub-tramas envolvendo os coadjuvantes. Ao chegarmos à metade da temporada as coisas aceleram na medida certa e, na parte final da temporada, temos 3 episódios de tirar o fôlego!

O roteiro sólido e bem amarrado dispõe de maneira harmoniosa os dilemas do personagem, a ascensão de Wilson Fisk e as nuances envolvendo os coadjuvantes. Todos estes elementos formam uma cadeia de acontecimentos muito bem desenvolvidos, com pontos de virada em muitos episódios e diálogos fortes e bem construídos. Mesmo os primeiros episódios, onde a história ainda está se moldando, são bem dinâmicos e não causam qualquer desinteresse.

O roteiro gira em torno da descrença de Matt no sistema, em sua fé católica e até em seus ideais heroicos. Entre o embate entre o vigilante, o herói e a frágil linha que impede que seu forte senso de justiça seja irremediavelmente distorcido.

Por outro lado, a ameaça de Wilson Fisk cresce a cada capítulo, chegando a ser desesperador o momento em que tomamos ciência da perfeita arquitetura desenvolvida por Fisk para seu retorno e sua vingança. O segundo antagonista da série é fruto dos planos de Fisk, e surpreende positivamente pela maneira como é apresentado e utilizado. Fisk retorna mais poderoso do que nunca, e a vida de Matt e de seus amigos nunca correu tanto perigo.

Falando neles, Karen Page e Foggy Nelson voltam com a qualidade e a profundidade crescentes já vistas nas temporadas anteriores. O roteiro reserva um bom tempo de tela para cada um, para desenvolver suas questões e dilemas, ao mesmo tempo em que costura a importância de ambos para o desenrolar da trama.

O que era bom, ficou ainda melhor!

Os valores de produção continuam excelentes. As lutas continuam muito bem coreografadas, com as tradicionais cenas de combate em corredor tudo filmado em plano sequência. Desta vez temos uma que dura cerca de 11 minutos, tudo filmado direto, sem cortes, um show de direção, atuação e coreografia.

A fotografia mantém a qualidade vista nas temporadas anteriores e ressalta com perfeição o clima sombrio da trama, principalmente pela boa escolha da paleta de cores e pela construção dos cenários.

A trilha sonora novamente é assinada por John Paseano que mais uma vez mostra sua competência nas escolha dos temas musicais. Aliás, entre eles temos um tema musical que está presente no game Mass Effect 3.

O Demônio e seus amigos

Novamente o elenco é o ponto alto da série. Impressiona como o showrunner da série, Erick Olsen, conhece bem seus personagens.

Começamos por Charlie Cox que, pela terceira vez, dá vida a Matt Murdock/Demolidor. Desta vez o personagem está em crise, o Matt que sobreviveu a catástrofe no final de ‘Os Defensores’ não acredita mais no sistema, duvida da fé e dos desígnios de Deus e não acredita mais que Hell’s Kitchen precise de um herói, mas de um vigilante que não se omita em usar todo e qualquer meio para deixar a cidade segura. Com o avanço da história, vemos um Matt perdendo suas convicções e se afastando dos amigos, envolto pela fixação em deter Wilson Fisk. Aos poucos Matt entende o quanto suas escolhas foram erradas, à medida que sua vida desmorona ao ser incriminado e ver o Demolidor desacreditado perante a opinião pública.

Charlie Cox continua muito bem no papel transmitindo a verdade das emoções de um Matt esgotado fisicamente e abalado psicologicamente, mas que coloca seu dever acima de qualquer coisa em uma jornada que ensinará ao protagonista o real significado da figura do herói e a importância das pessoas que o amam em sua vida, mesmo diante de suas difíceis escolhas.

Karen Page (Deborah Ann Woll) continua a mesma mulher poderosa e corajosa das temporadas anteriores e nesta sabemos mais de seu passado e dos fantasmas que assolam a bela repórter. Karen tem um papel fundamental no desenvolver do show.

Há um fun service bacana na temporada em relação ao papel da jornalista no descobrimento da identidade secreta do Demolidor por Fisk, mas sem o mesmo impacto ou contorno pesado da HQ ‘A Queda de Murdock’.

Assim como Karen, Foggy Nelson também tem seu papel fundamental no desenrolar da trama e na resistência ao sórdido plano de Fisk, mas Foggy, ao contrário de Matt, não perdeu a fé no sistema. Pelo contrário, é utilizando as vias legais que Foggy pretende frear a investida do vilão. Em paralelo, o jovem advogado precisa lidar com os problemas em sua família, e com a sua quase insatisfação com sua nova e confortável vida. Foggy é interpretado pelo competente Elden Henson, que novamente responde muito bem ao papel. Ao lado de Karen, Foggy é o ponto de equilíbrio na vida de Matt.

Das novas adições ao elenco temos que destacar o Jay Ali como o agente do FBI Ray Nahdeem, o elemento responsável por trazer humanidade pura e simples a toda esta equação. Nahdeem é o gatilho involuntário para o inicio dos planos de Fisk.

Os Antagonistas

O antagonismo da série é liderado por Wilson Fisk e Ben Poindexter. Enquanto o primeiro retorna com o desejo de vingança e de se estabelecer como único chefe do crime na cidade, o segundo é apresentado e desenvolvido para se tornar, no futuro, um dos maiores adversários do Demolidor, conhecido como Mercenário.

A construção do Mercenário passa pelos distúrbios mentais do personagem e suas fortes tendências psicóticas. Esta personalidade é aliada a um conjunto de habilidades que aparentemente nasceram com o personagem, uma sacada interessante dos roteiristas para não se alongarem demais com explicações cansativas sobre as habilidades de Poindexter.

Poindexter é frio, obstinado e perturbadoramente sádico, como uma mira impressionante, fazendo jus ao apelido de sua versão nos quadrinhos: “O Homem que nunca erra!”

O ator Wilson Bethel é o responsável por dar vida a Poindexter, com uma atuação que ressalta os medos, a crueldade e a paranoia insana de seu personagem, depois de “domado” pelo Rei do Crime, Poindexter finalmente se solta e o que vem a seguir é de tirar o folego, naquele que eu considero o melhor episódio da temporada.

Mas o destaque a Poindexter e todo o seu arco narrativo são dosados na medida, para não ofuscar o grande antagonista da série.

O Rei do Crime

Depois de ser preso, humilhado e derrotado pelo Demolidor na primeira temporada, Wilson Fisk deu mostras na temporada seguinte que um plano meticuloso e complexo estava sendo armado pelo vilão.

E não deu outra, em sua terceira temporada a série mostrou o real poder do vilão. Capaz de manipular a todos, Fisk intimida, ameaça e suborna costurando uma teia aparentemente sem falhas, ficando sempre vários passos a frente de qualquer um que ouse se impor em seu caminho.

Vincent D’Onofrio é um Wilson Fisk muito próximo a sua versão dos quadrinhos. Um gangster cruel e sanguinário, capaz de qualquer atrocidade para manter o poder. O mafioso desacredita a figura do Demolidor e incrimina Matt Murdock ao mesmo tempo em que manipula eventos para trazer a opinião pública de volta a seu favor. O poder da palavra é um dom absolutamente presente no vilão.

Enquanto isso nos bastidores do mundo do crime, Fisk cirurgicamente elimina adversários e constrói um cenário absolutamente favorável para que o vilão se consolide como o real chefão do crime em Hell’s Kitchen. Um verdadeiro Rei do Crime cuja ameaça recai sobre a democracia e liberdade.

Assim como Matt, o Rei do Crime também é atormentado pelos fantasmas do passado, e talvez sua única fraqueza seja o amor que nutre pela sua amada Vanessa, a quem o Rei reserva um lado surpreendentemente sensível e doce, ao melhor estilo A Bela e a Fera.

Vale ou não a pena assistir?

Em meio aos cancelamentos de Luke Cage e Punho de Ferro, a terceira temporada de Demolidor acerta em quase tudo, tem o mérito de trazer de volta e potencializar tudo que fez da série um sucesso em sua temporada de estreia e que parece ter ficado um pouco esquecido na temporada seguinte.

De negativo o excesso de episódios, toda a historia contada nesta terceira temporada caberia perfeitamente em 10 episódios, o que deixaria a série mais enxuta e ainda mais agradável de assistir. O passado de Karen Page contado em um episódio inteiro, poderia perfeitamente ser resolvido com trechos de flashbacks, como por exemplo, no surpreendente evento envolvendo a Irmã Maggie (Joanne Whalley).

Mas os pontos negativos afetam muito pouco a qualidade da experiência. Na real, Demolidor sintetiza a necessidade de um herói a margem da lei em meio a uma ameaça que corrompe e manipula o próprio sistema, com cenas de ação de muita qualidade, que não acontecem de maneira gratuita, mas trabalham para valorizar os momentos dramáticos do show. As soluções de roteiro surpreendem o expectador, que finaliza os 13 episódios desta temporada ansioso para a próxima.

Resumo

A nova temporada apresenta um Demolidor destruído física e emocionalmente, cheio de dúvidas e dilemas sobre sua vida e conduta, ao mesmo tempo em que consolida a ascensão do Rei do Crime e a constituição de uma nova e mortal ameaça. Inspirado no clássico das HQs “A Queda de Murdock”, vemos Matt em uma jornada de superação, descobrimento e afirmação daquele que merecidamente carrega o título de “O Homem Sem Medo”.

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