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Estou pensando em acabar com tudo | Crítica (Sem Spoilers)

Nossa crítica de ‘Estou pensando em acabar com tudo’, o novo filme de Charlie Kaufman, diretor dos aclamados ‘Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças’ e ‘Quero ser John Malkovich’.

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Novo longa de Charlie Kaufman, ‘Estou pensando em acabar com tudo’, irá dar um nó na sua cabeça.

Estou pensando em acabar com tudo, o novo filme de Charlie Kaufman, dos aclamados Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e Quero ser John Malkovich, chega à Netflix. Kaufman é um diretor que sempre gostou de brincar no cercadinho gigante e labiríntico que é a mente humana, e adaptar (direção e roteiro) o livro escrito por Iain Reid (Eu estou pensando em acabar com tudo’, 2017, Editora Fábrica 231) foi aquele preto cheio que Kaufman não deixou passar. Gostaria de agradecer e parabenizar aos amigos da Netflix pelo excelente trabalho de atenção e parceria com o site.

Jake (Jesse Plemons) e sua namorada (Jessie Buckley) estão em viagem para a casa dos pais de Jake. Ele quer apresentar a nova namorada pois, mesmo sendo um cara mais introspectivo, ele está feliz. Entretanto, ela segue com um pensamento sempre recorrente de acabar com o relacionamento assim que a viagem terminar e, ao chegar na fazenda dos pais dele, ela acaba entrando numa situação inesperada demais.

O filme ‘Estou pensando em acabar com tudo’ é uma adaptação deste livro.

Um quesito que preciso deixa claro: Eu não conhecia a obra original. Assim, eu vi o filme sem o fator adaptação, o que na maioria das vezes acaba atrapalhando.

Dito isso, Kaufman aposta pesado em um sentimento de estranheza em todos os momentos do longa. O primeiro ponto que evidencia essa escolha consciente do diretor é o aspecto de tela do filme, com o formato de 4:3. Daí em diante, temos todo um primeiro ato quase inteiramente entre Jake e sua namorada. conversando na viagem de ida, dentro do carro.

A edição de Robert Frazen mostra a que veio desde o início, porque ela ajuda bastante o espectador a passar esse primeiro ato do filme. Aqui também temos Jerry Stein e sua equipe apresentando outra grande força do longa, que é todo o trabalho de som e edição de som.

O texto de Kaufman funciona bem nesse início, porque somos apresentados a dupla de protagonistas. Jake e sua namorada representam bem um casal contemporâneo, com ela se mostrando uma colorida universitária atolada de trabalhos e um emprego, com pitadas de cinéfila, amante de literatura e até um quê de poetisa, e sempre consciente dos problemas atuais. Já Jake é um homem monocromático, inteligente, culto, sempre atencioso e um apreciador de musicais, mesmo tudo isso ficando sob uma grossa camada de timidez e inadequação social. Esse primeiro ato é entrecortado por uma segunda narrativa, que mostra um zelador fazendo o seu trabalho. Invisível e atuante, esse idoso, que pode ser tanto agradável como ameaçador, também se mostra um cinéfilo em seus momentos de descanso.

Ao chegar na fazenda, as coisas começam a avançar mais e mais e toda a estranheza e sensação incômoda que o longa traz ganha níveis mais fortes. Aqui tudo trabalha para deixar a narrativa mais densa, jogando mais camadas na história.

O texto de Kaufman fica mais trabalhado e também mais ágil, graças a interação dos protagonistas com os pais de Jake. Toni Collette e David Thewlis nos apresentam um casal que o tempo manteve unido. Que mesmo embrenhados numa fazenda mostram-se conhecedores vastos e, ao mesmo tempo, pessoas com pontos de vista rígidos, até ultrapassados, e acima de tudo, pessoas quebradas. Essas camadas são muito bem representadas graças à Molly Hughes e Gonzalo Cordoba, numa dobradinha efetiva e sensacional do Design de Produção com a Direção de Arte. Ambos usam sabiamente cores e texturas para ajudar na narrativa e, junto com o som e a trilha sonora de Jay Wadley, o espectador é afundado e engolido pelo mistério do trama.

Ter um elenco afiado é um grande aliado nessa imersão. Jessie Buckley tem uma voz magnética. Os seus monólogos são deliciosos de ouvir e sua atuação passa por uma gama de emoções que apenas uma atriz expressiva e talentosa poderiam transmitir tão bem. Jesse Plemons se supera, porque você já o conhece de obras como Breaking Bad e O Irlandês e, aqui, ele adiciona mais uma grande atuação ao seu currículo. A química entre ambos é ótima e nas longas cenas dentro do carro esse entrosamento faz toda a diferença e segura o espectador. Collette e Thwelis trazem bem todo o momento quebrado e doloroso que é a velhice.

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Nesse reboliço, de estranheza e mistério, chegamos no terceiro ato. Kaufman é até bastante linear com sua narrativa, e aqui seria o momento de ter repostas e soluções… É… seria.

Ao invés de se resolver, o roteiro coloca mais camadas na narrativa. O filme começa a ficar inchado demais, denso de forma desnecessária e aposta pesado ainda mais na confusão e piração para apresentar a sua conclusão. O que me deixou com uma sensação incômoda de ter visto um pombo enxadrista montado num pedestal de auto bajulação criativa, mesmo havendo algum sentido nesse final. Ao terminar, eu pessoalmente fiquei com mais perguntas do que repostas, tanto que precisei pesquisar sobre o livro e a produção do longa para encontrá-las.

Estou pensando em acabar com tudo é um filme pretensioso e incômodo, no bom e no mau sentido. Charlie Kaufman criou mais uma tapeçaria mental. E, divertir-se por completo aqui, exigirá do seu espectador atenção, e até revisitas com boas doses de fôlego, porque o longa propositalmente se mostra complicado como um quebra-cabeça jogado numa mesa. Espectadores mais atentos matarão a charada rapidamente, outros não. Mas, o que realmente importa aqui, é a experiência que um filme, como os criados pelo Kaufman, podem trazer.

O longa chega à Netflix dia 4 de setembro. Adiciona logo à sua lista (clicando AQUI) para não perder.


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