Anime | Mangá
Fullmetal Alchemist (2018) | Crítica (COM Spoilers)

Publicado há
7 anos atrásem
Se você já assistiu algum dos dois animes de Fullmetal Alchemist ou leu o mangá, é preciso que você tenha em mente que esse filme NÃO É PRA VOCÊ. Tendo dito isso, agora posso começar a falar o que achei do filme.
Dirigido e co-escrito por Fumihiko Sori, o longa conta o início da história dos irmãos Edward e Alphonse Elric, no início da prática da alquimia. Eles tentam trazer a falecida mãe de volta à vida, porém os resultados são péssimos. Embora o filme não consiga explicar de forma clara, transmutar um humano é um grande tabu para a humanidade. Ninguém nunca conseguiu trazer um ser humano do mundo dos mortos, e os que tentaram pagaram um alto preço. O custo para Ed é a perda de uma perna, enquanto Al paga com seu corpo. Ed consegue um acordo dentro de um domínio metafísico conhecido como Porta da Verdade e, em troca de um de seus braços, Ed tem permissão para manter a alma de Al viva dentro de uma armadura medieval.
E, aqui, temos o primeiro ponto: o filme falha em explicar as coisas com eficácia mesmo com a quantidade de diálogos expositivos que possui, e isso é realmente muito chato! Uma boa parte do anime detalha o crescimento de Ed, tomado de culpa por tentar realizar uma transmutação humana. Ele guarda a dor de ter provocado o destino fatídico de seu irmão mais novo. Sua saída é se tornar um Alquimista Federal e buscar a Pedra Filosofal, que pode ser o único meio de recuperar sua perna e braço, e o corpo de Al. A adaptação peca ao não trabalhar essas motivações dando um salto temporal para quando os dois personagens são adultos, deixando, assim, passar diversos momentos que, embora obviamente não pudessem ser tão bem trabalhados num único filme, com certeza dariam mais carga dramática a narrativa. Aqui as pessoas simplesmente dizem que “tal evento aconteceu”, alguns personagens aparecem e você tem somente que aceitar que estão lá, mesmo sem saber como eles chegaram até esse ponto. E tome diálogo expositivo! Isso realmente irrita muito.
O diretor fez um bom trabalho ao escolher o elenco para o filme, embora eu pessoalmente acho que seria melhor um filme com atores ocidentais, mais especificamente europeus (porque, cá pra nós, aquele país deles é praticamente uma Alemanha). Destaques para Sato Ruyta no papel do Tenente Coronel Maes Hughes, que era disparado o personagem mais fiel ao original, tanto no figurino quanto na atuação. Outros personagens que ficaram bem representados foram: Luxúria (Matsuyuki Yasuko), Inveja (Hongo Kanata) e Gula (Ushiyama Shinji). O destaque nos figurinos e atuação dos antagonistas foram o ponto alto do elenco. Infelizmente não se pode dizer o mesmo dos protagonistas. Yamada Ryosuke interpreta um Edward Elric mais velho com 20 anos de idade, bem diferente do começo da obra original, onde o personagem tem 15 anos. Em alguns momentos sua atuação destoa do perfil do Ed original e não convence (principalmente durante os momentos de ação).
Sua contraparte feminina, Honda Tsubasa (Winry Rockbell) também deixa a desejar em alguns aspectos. Os principais entre eles são: sua pouca expressividade, afinal a Winry original é alguém firme e enérgica. A questão de a personagem não ser loira como no anime nem me incomoda tanto, talvez esses problemas sejam evidentes justamente por ela não ter sua história contada durante o longa (para que contar histórias se podemos colocar diálogo expositivo, né?), e ela acabar servindo de suporte. Basicamente, ela é para esse filme o que a Lois Lane é para o Superman atual.
O segundo protagonista, Alphonse, salva esse aspecto. Sendo feito todo em CG, a armadura móvel que prende a alma do irmão mais novo de Ed é muito fiel ao conceito do mangá/anime, e sua mobilidade também é bem consistente, sem ações rudes ou mal editadas. Esse é outro detalhe de grande relevância em Fullmetal Alchemist: os efeitos especiais. Todas as cenas de alquimia que acontecem durante o filme são bem animadas e não aparentam descuido, pelo contrário, chegam o mais próximo da realidade vivida no anime. Sua única falha, que se repete em todo o filme, é a edição de som.
Em Fullmetal Alchemist, algumas referências sonoras, por algum motivo, são ignoradas pela edição do filme. Dentre elas, duas são relevantes e bastante prejudiciais para a aceitação da narrativa: o som metalizado dos automails de Ed e do corpo de Al, que fazem com que estes elementos no universo do filme sejam poucos verossímeis, e outro é a ausência dos sons de transmutação. Tal efeito sonoro era utilizado sempre que um personagem realizava alquimia nas duas versões da animação (FMA/FMAB). Seu esquecimento no filme empobrece os momentos marcantes das cenas feitas em computação gráfica, e assim diminui o apelo da memória afetiva junto ao telespectador.
É preciso falar também sobre as escolhas feitas para a narrativa. Fumihiko Sori decidiu trabalhar de forma diferente do que havia feito em suas últimas produções, talvez por não optar por um filme em sequência (embora a cena pós-créditos nos faça pensar o oposto). Logo, adaptou somente um arco da trama (o arco da Pedra Filosofal/5° Laboratório) e colocou alguns elementos do arco final para encerrar a história, com isso muitos núcleos e personagens importantes foram descartados. É o caso do refugiado Ishivaliano Scar, as tropas do Norte, o major Armstrong (esse, sim, eu queria ver adaptado!), os demais homúnculos incluindo King Bradley(!!!), o reino de Xing e Van Hohenhein, a primeira Pedra Filosofal e o pai dos irmãos Elric.
Com isso a trama foi curta e fragmentada, com algumas alterações que não passaram em branco, como a morte precoce do Dr. Tim Marco, e a ausência da cena do enterro do Hughes. Uma das melhores cenas é a aparição da quimera Nina-Alexander, que mostra o tom obscuro da obra.
Por fim, vamos falar sobre a dublagem nacional. O Grupo Macias reuniu 40% do elenco original da dublagem feita pela Álamo e, com isso, acabou salvando a atuação dos atores, apelando para nossa memória afetiva. Marcelo Campos (Edward Elric), Rodrigo Andreatto (Alphonse Elric), Andressa Andreatto (Winry Rockbell) e Letícia Quinto (Risa Hawkeye) voltaram para seus papeis originais para nos dar esse pequeno presente. A ausência mais sentida é a de Hermes Baroli (Roy Mustang), cabendo a Diego Lima a tarefa de representar o alquimista das chamas. A direção de dublagem foi de Úrsula Bezerra.
No geral, o filme não é a decepção que todos esperavam mas, infelizmente, eu só consigo ver esse filme como “regular” comparando ele com outras live actions decepcionantes, como Dragon Ball Evolution e Death Note. Ainda não está no ponto ideal, mas está no caminho correto. Quem sabe com uma sequência ele acabe melhorando ao aprender com os erros deste primeiro filme.
Fullmetal Alchemist está na Netflix em suas versões anime e live acion.
Fullmetal Alchemist (2018)
Voltando da Grécia após fracassar em conseguir uma armadura de bronze, decidiu escrever sobre cultura japonesa e seu vício em anime. De vez em quando sai algo bacana. Já falei pra vocês que tenho um blog?