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Mulher-Maravilha (2017) | Análise (COM Spoilers)

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Olá, galera que acompanha o Multiversos.

Espero que vocês já tenham visto Mulher-Maravilha e também já tenham lido o nosso texto SEM SPOILERS. Caso não, leia aqui antes de continuar.

O texto a seguir contém SPOILERS do filme. Caso não tenha visto ainda, é melhor ver o filme antes… Ou siga, por conta e risco.

Fica registrado aqui o nosso agradecimento à equipe do Shopping RioMar Fortaleza, à rede Cinépolis e ao pessoal da Cinema&Vídeo pelo convite para a sua sessão especial para convidados de Mulher-Maravilha.

O roteiro de Allan Heinberg (de O.C. , Jovens Vingadores e o próprio gibi da Mulher-Maravilha) baseado em idéias preliminares de Zack Snyder (Sucker Punch) e Jason Fuchs (Pan) é um claro exemplo de um roteiro de origem. Linear, simples e direto, a trama começa bem, com um prólogo estabelecendo a personagem hoje, como curadora de arte greco-romana no Louvre, em Paris. De cara, uma referência na placa do carro forte da Industrias Wayne, o “JL” na placa, deixando claro que esse é um assunto da Liga da Justiça com a entrega da foto original que a Diana procurava. O roteiro corrige uma bola fora de Batman v Superman. Em seqüência, Diana relembra de suas origens, começando em sua infância em Themyscira.

Total jus ao nome “Ilha Paraíso”.

A ilha onde residem as amazonas segue bem a estrutura tradicional dos quadrinhos. Brilhante, solar, cheia de vida. Sua arquitetura segue mais a de uma vila antiga do que as estruturas gigantes clássicas como os antigos senados ou escolas retratados nas artes gregas. Os adornos dourados acertam dentro da cidade, acertam também por serem circulares, assim dando personalidade e suavidade, mesmo variando de pequenos e sutis até as gigantes espirais na sala do trono. As ruas mostram bem como uma cidade à beira de um penhasco e de frente pro mar é quase um forte também. Como as locações na Itália são bastante vivas de verde, usarem o contraste com tons quentes de laranja e marrom foi um acerto, desde as construções até as roupas das Amazonas.

 

 

 

 

 

 

 

Todo o vestuário das amazonas é um espetáculo. Variando dos ocres ao bege das guerreiras, indo do branco ao azul claro para as acompanhantes e tutoras de Diana. As cores denotam bem as funções de cada moradora da ilha. Outro item visual são as armaduras. Leves e práticas, sendo que, quanto maior a hierarquia militar, mais trabalhada e detalhada o torso é, e adotando tiras e saiotes abertos nas pernas pra deixá-las livres e sem nunca cair no fanservice. Aqui um ponto claro de se ver, a câmera do filme enaltece o movimento, mas nunca foca em ângulos expositivos gratuitos. Atente também para as tiaras e capacetes de cada uma delas, claramente demonstrando hierarquia e função dentro desse sistema. Completando, somente a tiara da Antíope possui a estrela, dando-a a qualidade de maior posição e somente as roupas da Hipólita possuí a águia no peito, desde o corsete de couro com o decote no formato, quanto a armadura dela também tem o símbolo e somando ambas, temos o uniforme da Mulher-Maravilha: com azul e vermelho, cores exclusivas da realeza, e a águia dourada somada à tiara de melhor guerreira.

O primeiro ato, em Themyscira, é perfeito. Indo com o crescimento da Diana, sendo apresentada aos mitos e histórias. É lindo e elegante ver a escolha de usarem a estética de pinturas Renascentistas e Barrocas para os flashbacks, inspiradas em especial de quadros de Rembrandt e Jean Jaques Louis David. É compreensível narrativamente que os deuses gregos desse universo estarem mortos, pois esse será um dos papeis dos heróis desse universo. Atente em especial para como toda a cena em que os Deuses aparecem, tirando Zeus e Ares, os enquadramentos dão destaques para Poseidon e seu tridente, claramente ligando-o com um certo personagem aquático da Liga.

O treinamento secreto com Antíope, a vontade juvenil de aventura – em desagrado com Hipólita – marcam bem a rebeldia adolescente, ao mesmo tempo que botam em cheque a origem de Diana que, num primeiro momento, é contada como sendo uma criança nascida do barro, mas Antíope deixa no ar que há algo a mais guardado.

O fato de Diana ser mais poderosa que as outras Amazonas, como fica claro na sua luta com Antíope, é uma referência clara à fase moderna escrita por Brian Azzarello.


A chegada de Steve Trevor na ilha é perfeita e simples, e a adição da luta com a marinha alemã da Primeira Guerra Mundial foi excelente porque mostrou uma bela luta das amazonas. Algo que preciso falar dessa cena é que li alguns textos questionando quanto ao navio alemão, que desaparece em cena, porém fica claro e é mostrado várias vezes em segundo plano o navio afundando, o que pressupõe como Themyscira nunca havia sido descoberta antes pelo mundo dos homens. A luta funciona bem para apresentar a ingênua Diana o conceito de morte, com ela conseguindo ver a trajetória da bala que atinge uma amazona presa a uma corda, e também o de sacrifício, quando Antíope toma um tiro para salvá-la. Vale um parabéns por mostrar os relacionamentos amorosos também, quando Menallipe corre em desespero para ver Antíope, deixando claro, e de forma muito delicada, a relação amorosa das duas.

Diferindo dos quadrinhos, aqui não há um torneio para ver que vai ajudar o mundo dos homens. No filme, Diana aceita o chamado interior de ajudar os necessitados e pega escondido os itens sagrados: o laço, o escudo e a espada – matadora de deuses, antes citados nos contos de Hipólita, e por último a armadura, sutilmente escondida pelo enquadramento.

O roteiro acerta bem em já deixar claro a dinâmica entre Steve e Diana, mostrando como ambos aprendem um com o outro, numa boa relação de respeito e humor.

Esse ato fecha muito bem com Diana e Steve indo embora de barco e Hipolita se despedindo da filha, mas não sem antes alertá-la dos perigos do mundo dos homens e dando-lhe a tiara de Antíope, assim completando o seu treinamento como amazona e dando-lhe o posto de símbolo maior de Themyscira.

 

 

 

 

 

Bônus para a excelente cena do barco, com textos afiados e precisos e para o flashback de Steve, onde nos são apresentados a missão de Steve, como espião infiltrado no front alemão, que rouba os planos do da Dra. Isabel Maru, a Dra. Veneno e do General Ludendorff, vilões da trama e que serão mais explorados no segundo ato.

LONDRES e A GUERRA

O Segundo ato começa com um momento no front alemão, durante a visita de Ludendorff a Dra. Maru e a descoberta do novo gás, que dá superforça a quem o usa. Os vilões são personagens simples e com papel fixo. Ludendorff como indivíduo realmente maligno e Dra. Maru como uma cientista corrompida mas que se apega mais à descoberta e sucesso do trabalho do que a ser maléfica.

Corta pra Steve e Diana chegando em Londres, com a ajuda de um rebocador (o roteiro sempre tem essas sacadas sutis no texto).  A adaptação de Diana ao mundo dos homens é mostrada com um humor sutil e cheio de diálogos bem colocados, como quando ela é apresentado pra Etta Candy e fala sobre escravidão, ou quanto vai tirando o manto escuro e chega a mostrar os ombros antes de Etta e o Trevor correrem para impedi-la. Há aqui referência ao número 226 de Mulher-Maravilha, última edição escrita por Greg Rucka e edição anterior à fase do Heinberg, e os momentos inspirados em Superman do Richard Donner, como a cena do beco.

Londres é mostrada como o exato oposto de Themyscira. Escura e suja, azulada e cinza com altas torres como a ponte de Cambdrige e os prédios da cidade. Sempre cheia e movimentada. Mesmo assim, Diana mostra encantamento em descobrir esse mundo. É a apreciação do novo mesmo sendo diferente. Steve aos poucos a insere nesse universo e Diana à sua maneira se insere nele. Assim ambos constroem aumentam os laços que possuem.

O roteiro também não se exime de mostrar como era a posição e visão da mulher na sociedade do início do século XX, com os homens estranhando, e até hostilizando, Diana e Steve tentando se virar com a situação. Nesses momentos, Diana certeiramente se impunha, seja assumindo postura simples em ajudar, como na leitura do diário da Dra. Maru, ou no momento em que ela esbraveja contra a decisão de não interferência dos generais da coalizão dos aliados. Diana não os difere por serem homens, mas por suas decisões acovardadas. Nesse momento o texto acerta por mostrar que Steve também é uma pessoa a frente do seu tempo, por decidir seguir em frente com seus planos de infiltrar-se e parar os planos da nova fábrica de gás, mesmo contrariando seus superiores.

Quando Steve procura aliados, somos apresentados ao futuro grupo da guerra. O Árabe Sameer, um especialista em infiltração e dominante de várias línguas, aqui tendo uma boa sacada contra a Diana, e ao Escocês Charlie, o franco-atirador bebarrão. O grupo é ajudado secretamente por Sir Patrick, a liderança dos aliados, que confia e acredita nos planos de Steve.

Ao chegar na front de guerra belga, uma pausa pro sorvete (um easter egg que é péssimo no quadrinho mas que aqui funcionou muito bem) o grupo se completa com o Indígena Americano Chief, vendedor de itens na guerra. O grupo mostra entrosamento com pequenos e certeiros momentos, como o diálogo entre Diana e Chief, onde ele mostra com uma frase todo o mal que o homem branco trouxe aos Índios com um simples “o povo dele” e um dedo apontado para Steve, enquanto Charlie é atormentado por seus demônios internos nos seus pesadelos.

Outro grande momento é como o filme apresenta os males da guerra. Aproveitando-se ao máximo do que uma censura PG-13 (aqui 12 anos) pode mostrar, o filme deixa claro o quanto se perde numa guerra, com o povo e os soldados sofrendo, a terra devastada é mostrada de forma clara e simples, sem rodeios.

No meio desse caos é que Diana se encontra. No seu papel de ajudar o necessitado, de fazer a coisa certa na hora certa. O UDC e o cinema ganharam uma cena espetacular e que será lembrada. Diana mostrando-se completa no campo e batalha. O fotografia marca bem o soltar de cabelo, a retirada do manto de cima da roupa e, ao colocar a tiara e subir a escada, ela aparece plena e só vai crescendo como personagem. Diana inspira os soldados a seguir em frente e tanto ela quanto Steve e o seu grupo avançam, sempre um completando o outro.

As cenas de luta, aqui com a Patty Jenkins tendo auxilio do Zack Snyder é acerto incrível. O Slow Motion ajuda e marca bem o ritmo da luta. Aqui é o que eu chamo do Snyder certeiro. Aquele que sabe coreografar lutas com maestria e, sim… a Diana é mostrada como a excelente lutadora que é.

http://youtu.be/klidfZG9oZQ

Com o final dessa cena, o segundo ato, ao meu ver se estende mais do que deveria. Olhando isoladamente, a cena do quarto com Steve e Diana, e a seqüência na festa do Castelo, funcionam, dão mais espaço para os atores brilharem e mais densidade aos personagens, até mesmo pra trazer a dúvida na Diana e no Steve se o Gen. Ludendorff é mesmo o Ares. Mas, mesmo assim, poderiam ser retiradas sem maiores problemas narrativos e terem deixado só até a dança na neve entre os protagonistas, e reestruturado a cena do castelo, deixando somente o momento da discussão entre o grupo para ver quem entraria no castelo. E, claro, a cena da vila morta pelo experimento do Ludendorf, que é excelente e que leva para o ato final do filme.

Outra cena estranha foi a matança dos lideres alemães por Ludendorff e a Dra. Maru. Ali os personagens ficam extremamente caricatos e com direito a risadinhas de vilão do Batman 66. Destoou um pouco.

Ares

Com a ajuda de Chief, Diana consegue encontrar a base onde Ludendorff e a Dra. Maru estão produzindo as bombas com de gás. Diana chega primeiro, luta com Ludendorff e vence, matando-o, porque ela acreditava que ele era a encarnação de Ares. Porém, nada acontece com a morte dele e a ingenuidade de Diana começa a cair diante da realidade. O dialogo entre ela e Steve, a seguir, a deixa com mais dúvidas e Steve deixa claro que a humanidade é que tem ambos os problemas, que Ares talvez não seja o vetor da Guerra, e que a humanidade é que, na maioria das vezes, é a catalisadora de sua própria ruína, mas que independente disso, ele iria parar as bombas, porque era a coisa certa a fazer.

É nesse momento de dúvida e fraqueza que nos é mostrado o verdadeiro Ares: Sir Patrick. Pessoalmente gostei de ser surpreendido aqui, e vendo em retrospecto, faz sentido, porque Sir Patrick sempre mexeu os pauzinhos para as coisas irem acontecendo, sempre guiando as ações e mais influenciando do que agindo. Pequenas liberdades foram tomadas aqui, com Ares se intitulando “O Deus das Verdades” (na mitologia essa é uma característica de Apolo), comandando os raios (atributo de Zeus) e tentando seduzir Diana para acabar com humanidade e ambos serem os únicos moradores de um novo Elísio, algo que me incomodou um pouco por fugir bastante dos quadrinhos e da mitologia, mas que narrativamente dentro do filme funciona pelo caráter de mostrar uma divindade louca e destrutiva. Outro ponto que me incomodou foi a “armadura” do Ares, com design paupérrimo de flandes colados, tentando ser realista num momento desnecessário.

Aqui é explicada a origem real da Diana, que ela realmente é a filha de Zeus e Hipólita, assim servindo como salva guarda para o caso Ares voltar. Mais uma vez é utilizado o material do Azzarello como base nesse momento e a origem clássica fica sendo apenas uma lenda contada para esconder a verdade de Diana.

Segue-se em paralelo com Steve e seu pessoal se infiltrando na base e descobrindo que as bombas são pra destruir Londres e eles conseguem chegar ao avião. Nesse meio tempo, Ares e Diana começam a lutar, intercalando luta física com raios e explosões, o que não fica tão bom como as lutas anteriores, mas funciona.

Assim, quando Diana e Steve se reencontram no meio da luta, o filme faz a boa sacada de deixar Diana “surda” e assim o publico também, então Steve sobe no avião carregado de bombas, não sem antes lhe entregar o seu relógio.

Nesse momento, o filme utiliza bem o clichê do sacrifício novamente, com Steve explodindo o avião no ar para evitar uma catástrofe em terra e assim evitar a morte dos que estão em Terra, cumprindo a sua parte da missão e salvando os que estão em Londres.

Subjugada por Ares, que mesmo lutando continua a tentá-la a passar para o seu lado, Diana sucumbe à raiva e destrói toda a base, e com isso Ares joga a sua carta final, pondo a Dra. Maru aos pés de Diana que, em fúria, ergue um tanque para jogar sobre a Dra.. Ai vem a boa sacada, Diana entende que Steve havia falado para ela salvar o mundo, parando Ares enquanto ele salva o dia parando o avião, e terminando com um “Eu te amo”.

Muitos estão acusando esse momento de piegas. Eu não acho. Lutar por acreditar no amor e no bem da humanidade é uma característica da personagem e utilizar isso aqui deu certo.

Por fim, Diana derrota Ares dominado os raios que ele utilizava. Sim, a luta final derrapa. Faltou aquela pegada mais crua das lutas anteriores. Eu credito isso mais à uma limitação dos atores, afinal David Thewlis já não é mais tão jovem e nem tão em forma assim, e decidiram focar mais nos poderes. Não é ruim, mas poderia ter ido por um caminho melhor. O final com o sol raiando e o pessoal se abraçando marcam as palavras de Diana sobre o fim da guerra e tem mais valor simbólico do que de atuação mesmo.

Visualmente mais escuro e mais simples, o terceiro ato é bem mais pobre visualmente do que os anteriores, não por ser um set único, mas por certas escolhas visuais como já citei.

O epílogo mostra o fim da guerra e o luto por Steve. O filme fecha com Diana reforçando a sua escolha de ajudar a humanidade, por agora ver o bem e o mal existente no interior das pessoas e por saber que fazer o bem ao próximo é o que importa.

Mulher-Maravilha é um acerto bem-vindo e necessário. Como todo filme, tem suas qualidades e defeitos, e busquei analisar a obra da melhor forma possível. O mais importante de tudo: o filme foi o acerto necessário para reanimar e realinha o novo Universo DC nos cinemas. E que realmente sirva de inspiração para que as obras da Warner sigam um caminho melhor como o mostrado aqui.

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