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O Diabo de Cada Dia | Crítica (Sem Spoilers)

Confira a nossa crítica (sem spoilers) de ‘O Diabo de Cada Dia’, novo longa com Tom Holland e Robert Pattinson, para a Netflix.

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Imagem: Divulgação Netflix

Novo longa da Netflix aposta em personagens com profundidade e roteiro que convida à reflexão.

O caminho que o individuo faz é pavimentado pelas escolhas que a vida lhe traz. Algumas delas são conscientes e feitas por escolha própria. Porém, aquelas que formam a base social e psicológica, e que são moldadas desde a infância, essas são feitas pelas pessoas e pelo meio que cercam esse indivíduo em O Diabo de Cada Dia (The devil all the time, 2020), dirigido por Antonio Campos. O longa adapta o livro “O mal nosso de cada dia” (da Darkside Editora no Brasil), do escritor Donald Ray Pollock, com roteiro de Antonio Campos e Paulo Campos.

No longa temos a história de Arvin Russell (Michael Banks Repeta), filho de um jovem casal no interior do Estados Unidos, no final dos anos 1950. Arvin segue em sua narrativa, chegando ao início da vida adulta (aqui interpretado por Tom Holland) como um jovem carregado de traumas e que acaba tendo que lidar com demônios o tempo todo, sejam os seus ou aqueles que surgem em seu caminho.

Campos começa o seu primeiro ato construindo o seu protagonista a partir das perspectivas das pessoas que o moldaram. Williard e Charlotte Russell (Bill Skargard e Halley Bannet) tratam Arvin de formas bastantes distintas. Essas diferenças, e o fato de que Williard é mostrado como um homem introspectivo, vingativo e cada vez mais fanático pela figura de Deus devido aos seus traumas de guerra, são bem utilizados na trama. Ao mesmo tempo, Campos usa também o primeiro ato para construir a vida de todos os personagens coadjuvantes que serão importantes para Arvin em um ponto ou outro da narrativa. Aqui ele se utiliza de saltos temporais e estabelece um elemento narrativo que se torna constante na obra toda (que eu prefiro não falar o que é, para não estragar a surpresa). Essa ferramenta acaba sendo importante na história, porque a sua presença em todo o longa traz diversas experiências que achei fascinantes. Após esse momento, a trama se fixa nos anos 1970 para contar a história no segundo ato, que consegue ter um ritmo excelente, e o terceiro ato, mesmo episódico, funciona como calvário final para Arvin.

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O roteiro do filme é muito bem construído, tendo como foco os seus personagens. Arvin, seus familiares e pessoas que o cercam e que passam em sua vida, sejam em maior ou menor grau, são muito bem construídas e tem suas motivações e personalidades bem explicitadas no filme.

Outro ponto importante é ver como a sociedade molda esses personagens. Isolamento, deturpação do sentimento de comunidade, a gigante influência de instituições como a igreja, somadas a falta de pudor e a vivência de uma situação “sem lei” que acaba fazendo o individuo ter que agir. Tudo isso cerca esses personagens e acabam tornando-se elementos importantes, tanto como ferramenta narrativa e até como objeto de crítica.

Tudo mostrado em tela é sempre doloroso, graças ao trabalho de design de arte, fotografia e figurino. O filme sempre investe em closes e planos médios, sempre criando uma sensação desconfortável em tela, graças ao foco subjetivo que ele usa nesses momentos, e até mesmo nas poucas vezes que temos um planos mais abertos, o foco subjetivo de espreita continua lá. Esse clima lúgubre infecta até mesmo a trilha sonora, que mesmo usando músicas country e românticas dos aos 1950 e 1960, soam como ecos de um tempo morto.

Tom Holland mostra que é um excelente ator. Que muitos só o enxergam como o adolescente Peter Parker, e esquecem que ele já foi uma criança perdida no caos de um tsunami e até um jovem marinheiro contra uma baleia gigante. Holland incorpora a raiva contida, a insegurança juvenil e a desconfiança de quem já viu muita desgraça na vida. Tudo isso sem cair numa visão e atuação caricatas. Quase roubando a cena, Robert Pattinson coloca mais uma grande atuação em seu currículo. Bill Skargard apresenta bem um homem que, aos poucos, se esfacela por culpa das pancadas que a vida lhe dá, e cada vez mais é notório ver como Sebastian Stan vai incorporando bem o escroque abjeto no seu rol de personagens.

O Diabo de Cada Dia se mostra um filme que bate pesado no espectador. Antonio Campos não faz rodeios na escolha dos temas do filme e, como eles são mostrados de uma forma que direta e crua, torna o filme uma experiência crítica e necessária até mesmo nos dias de hoje. Acima desses temas, temos o individuo e aqueles que o cercam, como vitimas de uma sociedade que, ao mesmo tempo prega virtudes, é corrompida por dentro, tornando-se o maior inimigo dessa história.


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