Existe um grande problema hoje na indústria cinematográfica: a preguiça de ideias.
Com as recentes investidas de estúdios em franquias e reutilização de conceitos, obras dos mais diversos níveis são lançadas no mercado. É aqui que temos O Grito (The Grudge, 2020) a nova tentativa da Sony em revitalizar uma das franquias mais celebradas nos anos 2000.
Com uma trilogia americana criada, inspirada na obra japonesa chamada Ju-On, de Takashi Shimizu, que tiveram diversos livros, quadrinhos e filmes lançados, acreditava-se que as obras americanas haviam perdido o seu fôlego em 2009. Chega 2011 e é anunciado uma nova sequência. Pula para 2016, quando Nicolas Pesce (de Piercing e Os Olhos da Minha Mãe) assume o roteiro do projeto, substituindo e aproveitando o que deu do texto de Jeff Buhler e também assumindo a direção do longa.
Agora em 2020 com tudo em mãos, Nicolas Pesce conseguiu a façanha de errar em praticamente tudo! Tudo mesmo.
O filme tem 94 minutos de duração, e vemos Pesce perder 50 deles com a Detetive Muldoon (Andrea Riseburough) olhando arquivos de crimes ocorridos numa casa, onde uma das antigas moradoras, que veio do Japão, matou a família e cometeu suicídio e que, após isso, todos os que entraram lá se envolveram em crimes macabros. Ela passa por tudo isso a fim de investigar e solucionar um achado de cadáver. Lendo assim, até que parece um boa premissa, entretanto, a péssima execução ferra tudo, porque vemos Pesce criando 4 linhas narrativas, todas chatas e enfadonhas, e com um excesso de draminhas inexpressivos e sustos mínimos. Aí, quando o roteiro tenta voltar para a linha principal, sobra pouco tempo para desenvolver os personagens e, assim, o longa apela para esteriótipos padrão, deixando tudo raso como um pírex.
50 minutos perdidos depois, o tempo que sobra se resume à um monte de sustos bobos, o uso indiscriminado e ruim do checklist de filme de terror. Manicômio? CHECK! Fantasminha nas câmeras? CHECK! Protagonista ficando maluca? CHECK! Parceiro Tira inútil? CHECK! E assim vai até o fim, com um terceiro ato feito às presas e mais curto do que coice de bacurim.
Esse festival de obviedades também seguem na fotografia dessaturada em sépia, para dar aquele clima adultão trevoso, a trilha sonora chatinha e monótona e uma edição que telegrafa sustos à quilômetros de distância.
O elenco desse filme é fraquinho como um café ralo, só salvando a Andrea Riseborough e o John Cho, que claramente fizeram o que deu com um roteiro fraco em mãos.
O Grito de 2020 é um erro. A prova definitiva que certos projetos devem ficar no lugar onde estão: mortos e enterrados a sete palmos do chão.