Brasil, 2019, e se você chegou aqui é por um certo desenho que passava na finada Rede Manchete em 1994, acertou em cheio os fãs da época e perdura até hoje como uma das obras mais amadas do Brasil. Os Cavaleiros do Zodíaco mudaram tudo quando chegaram ao Brasil e hoje temos a sua mais nova versão diretamente para o serviço de streaming Netflix.
Agora chamada de Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya, a obra produzida pela Toei Animation Kurumada Production, em parceria com a Netflix , vem para recontar a história de Seiya, o cavaleiro de pégaso, e dos outros cavaleiros de bronze, na missão de defender Saori Kido, a reencarnação da Deusa Atena.
Ao focar em uma releitura da obra, a nova versão da Netflix causou o medo e furor na já conhecida fanática base de fãs dos Cavaleiros porque, com certeza, mudanças seriam feitas na obra a fim de adaptá-la para um novo público e formato.
Falando sem spoiler, esses seis episódios que a Netflix disponibilizou, mantém toda a base criada por Massami Kurumada, respeitando o principal de cada personagem e trazendo toda a história para uma linguagem mais ocidental e mantendo elementos narrativos orientais, assim mesclando bem essas características e criando uma obra bastante atualizada.
Esses episódios abrangem muito bem o inicio da série. Com isso, resumindo bem esses eventos. Todo a história principal está lá e as mudanças trazidas pelo time de roteiristas (Shannon Eric Denton, Thomas F. Zhaler, Benjamin Townsend, Joelle Sellner e Travis Donnelly, sob a batuta do produtor e supervisor Eugene Son) funcionam em sua maioria, exceto em algumas piadas e em alguns momentos do uso de forças bélicas no roteiro, o plot e narrativa funcionam, mesmo com alguns diálogos muito fracos.
Os cavaleiros de bronze estão bem traduzidos mesmo tendo suas personalidades bastante simplificadas, cada um deles é bem diferenciado na série. Seiya é o moleque revoltado e briguento, Shiryu é bastante controlado e zen, Hiyoga vem bastante dividido entre o dever e a dúvida e a personagem que gerou mais polêmica, AShun, está ótima, em um misto de ternura, pacifismo e presença cativante. Justamente contrapondo a fúria e o ódio do seu irmão, Ikki.
Todos os dubladores clássicos foram mantidos na medida do possível, e assim temos Hermes Baroli (Seiya), Marcelo Campos (Jabu), Francisco Bretas (Hiyoga), Élcio Sodré (Shiryu), Leonardo Camilo (Ikki) e Letícia Quinto (Saori), reprisando os seus papéis, agora com a adição de Úrsula Bezerra fazendo a voz da Shun. A direção de dublagem ficou a cargo de Francisco Bretas e as traduções por Marcelo del Greco.
Infelizmente a Netflix brasileira não disponibilizou o áudio em japonês e curiosamente, o áudio original da obra é em inglês, mostrando o claro desejo da Netflix em expandir a obra para vários mercados. Com essa mudança, é divertido assistir a obra com legendas e perceber que essas foram feitas a partir do áudio em inglês e notar como os nomes dos personagens foram alterados. Por exemplo, Hiyoga se tornou Magnus, Shiryu se tornou Long e Ikki se tornou o Nero e outras bizarrices divertidas, mostrando que a visão de adaptação e mudanças ao mercado americano ainda continua forte.
A animação, aqui usada no estilo 3D, é prática e funcional. Os designs das armaduras respeitaram a obra clássica e foram bem adaptados. A trilha sonora é apenas competente sem maiores emoções e sem chamar a atenção pra si.
Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya é uma nova obra para um novo público. Traz características modernas e mais abrangentes para contar uma história que hoje é parte do imaginário pop brasileiro, sem deixar de respeitar o material original. Porém, não se engane, mesmo sendo trazida de forma competente, o caráter comercial dessa obra ainda é o elemento mais forte que ela apresenta. É um divertido passatempo e pessoalmente falando, deve ser enxergado e assistido como tal.
Nascido em Fortaleza, trabalha profissionalmente com quadrinhos e ilustração desde 2005, quando começou a vender seus trabalhos pela Internet em sites de vendas como o E-Bay. Trabalhou para editoras norte-americanas, ministrou aulas de desenho e quadrinhos, e vem participando de diversos eventos nos Artists’ Alleys e em painéis sobre cultura pop, quadrinhos e artigos/notícias para o site do Dínamo Studios, do artista Daniel HDR.