Editorial | Opinião
Por um mundo com mais Mulheres Maravilhas
Publicado há
9 anos atrásem
Por:
Rogers
De minha infância vem as memórias de uma personagem que, para mim, sempre foi emblemática por sua capacidade obstinada de superar os desafios de ser mulher. Inspirado no mundo grego, pelo inventivo e é claro homem, William Moulton Marston, psicólogo, psiquiatra e novelista, trouxe a primeira heroína das HQs, da DC Comics, a Mulher Maravilha (1941). Essa super-heroína era filha da rainha das amazonas Hipólita (da ilha de Themyscira ou Ilha Paraíso), criada a partir de uma escultura de barro feita pela rainha das amazonas, recebeu a dádiva da vida dos deuses e dons como a força de Hércules, beleza de Afrodite, a sabedoria de Atenas e a velocidade do deus Mercúrio.
Lembro bem como foi a primeira vez que vi a personagem, Diana Prince por Lynda Carter, sua roupa azul e vermelha, decorada com estrelas, bem típico do nacionalismo americano, denuncia seu lugar de origem, os Estados Unidos. Contudo não é isso que me chama a atenção. A despeito do patriotismo americano, sua criação é sem dúvida fruto da observação de um homem sobre o papel da mulher na sociedade ou mesmo sobre a ausência da mulher dentro desta mesma sociedade.
A vida de Diana, como passou a ser chamada por sua mãe, mudou quando Steves Trevos colidiu com seu avião. Foi então que a mesma desafiou sua mãe e fez suas próprias escolhas. Para levar de volta Trevos, Hipólita criou um campeonato para escolher a melhor amazona que o reconduziria de volta aos EUA. Diana, proibida pela rainha de competir, preferiu enfrentar, subverter as ordens e venceu o campeonato. O que parece uma afronta a autoridade, traz a nossa reflexão sobre as muitas mudanças do tempo em que a heroína estava inserida: a luta pela igualdade de gênero, o direito a educação formal, o acesso ao mercado de trabalho e sobretudo, a participação política e intelectual, dada aos homens por exclusividade sob a justificativa de que o papel da mulher não é pensar.
A vida de Diana no “mundo real” vem acompanhado de seu caráter transformador, e por que não dizer inspirador, pois é preciso exemplos de superação de ideias cristalizadas no seio social de que a mulher não pode ocupar este ou aquele lugar. Diana e seus apetrechos (tiara, laço mágico, seus braceletes indestrutíveis e o cinturão de poder) compunham peças importantes não apenas de uma alegoria, uma fantasia, representavam símbolos da resistência, da sabedoria, da obstinação e do combate aos equívocos de que a mulher é o sexo frágil.
Diana é esse arquétipo da superação das mulheres em um período onde a mesma era relegada ao tempo do mundo grego, onde o homem vai a guerra e a mulher fica em casa esperando. Ela representa essa figura da mulher que não necessita de um mundo masculinizado, fechado e sem possibilidade de mudança de paradigmas. E por que não falar de feminismo em pleno século XX? A mulher já tinha dado provas de que não se aquietaria no “lar doce lar” ou mesmo pilotando fogão para o jantar do seu marido. Em tempos de guerra, os homens foram para a batalha e foram elas que fizeram a revolução em seus países, trabalhando nas fábricas ou cuidando dos feridos. Isso ficou evidente sobretudo na Primeira Guerra Mundial e se estabeleceu na Segunda Grande Guerra consolidando a presença maciça da mulher nos fronts de batalha.
Em plenos anos 40 nascia uma mulher patriota, e não apenas envolvida na onda do ufanismo americano. Alguém que, com seu laço mágico, procura a verdade das pessoas, tentando se defender das piadas prontas e do machismo exacerbado com seus braceletes, imbuído do movimento cultural da mulher que exige ser tratada como humano, e não como um gênero inferior ou sensível demais. Em pleno século XXI, a Mulher Maravilha é o arquétipo da mulher que precisa superar os desafios de um mundo onde seu papel ainda é o de seguir o homem incondicionalmente, um tempo onde seu corpo não é seu, mas pertence aos outros, num cotidiano marcado pelo feminicídio e violência, e sobretudo pelo desejo de alguns doentes de subjugá-la.
Sem pieguice, acho que precisamos de mais Mulheres Maravilhas para inspirar muitos de nós. Acredito até que já nos deparamos com tais mulheres, eu mesmo vejo muitos valores da personagem em minha mãe, mulher forte, poderosa, uma leoa, que briga pelos seus sem ter medo das consequências ou cobranças sociais. Acho que fui bem-criado por uma Mulher Maravilha, aprendi muitas coisas com seus dons e sua capacidade de tirar a verdade das pessoas. Pense nisso, acredito que você que leu esse artigo também irá se identificar. Por fim, vamos fazer uma campanha eu e você: precisamos de mais Mulheres Maravilhas e menos homens babacas!
REFERÊNCIA BIBLIGRÁFICA
Guia do Estudante. Como ela mudou o mundo. Disponível em: http://guiadoestudante.abril.com.br/100-anos-primeira-guerra-mundial/mudanca.html. Acessado em 02 de janeiro de 2016.
Cult de Cultura. As mulheres nas Histórias em quadrinhos: Mulher Maravilha. Disponível em: http://atl.clicrbs.com.br/infosfera/2015/11/18/as-mulheres-nas-historias-em-quadrinhos-mulher-maravilha/. Acessado em 02 de janeiro de 2016.