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Quarteto Fantástico

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Para entendermos tudo o que estamos vivendo hoje nesta nova produção cinematográfica, que é uma viagem ao passado, e porque não dizer entre várias terras e outras variáveis, é necessário.

Jacky Kirby e Stan Lee criaram na década de 60 a primeira série de heróis modernos, um pontapé inicial que deu sequência à criação de vários outros personagens que conhecemos hoje.


O conceito de Kirby e Lee para esses novos heróis era misturar ciência, aventura e uma estrutura familiar que sempre esteve tão presente nas histórias do Quarteto. Em sua origem, os 4 adquiriram seus poderes através de radiação cósmica, com a qual tiveram contato durante uma viagem de exploração ao espaço.

Cada um acabou por receber algum tipo de poder neste acidente. O Cientista e gênio Reed Richards adquiriu as habilidades de esticar, expandir e contrair o próprio corpo na forma que desejar, tornando-se o Senhor Fantástico.

Sue Storm recebeu os poderes de invisibilidade e projeção de campos de força, podendo deixar objetos também invisíveis e conseguindo até fazer esses campos levitarem com a força de sua mente. Sue virou a Mulher Invisível.

Johnny Storm recebeu poderes que condizem bem com seu codinome. O Tocha Humana consegue controlar as energias cinéticas dos átomos para gerar, absorver e controlar o fogo, tornando-se uma chama ambulante, inclusive com capacidades de voo.

E por fim, temos Bem Grimm, amigo fiel de Reed e piloto. Foi o que recebeu a pior das dádivas, pois, apesar de grande força e resistência, sua forma física foi transmutada em um monstro de pedras, totalmente laranja, uma verdadeira Coisa.

Depois de muito sucesso, as aventuras da primeira família de super-heróis dos quadrinhos finalmente pularam para outra mídia, a do cinema.

Em 1994, saiu uma verdadeira bomba; uma produção feita às pressas, pois reza a lenda que, se a Empresa Alemã NEUE CONSTANTINE, que comprou os direitos da produção, não lançasse o filme no prazo estipulado, seria obrigada a pagar uma multa de 5 MILHÕES a Marvel. Mas tudo isso é especulação. Aos trancos e barrancos, o Produtor Roger Corman, conhecido por produzir filmes de baixo orçamento e o diretor Oley Sassone, lançaram a famigerada adaptação. O filme é tão ruim que a Marvel vetou seu lançamento e mandou destruir qualquer vestígio do filme. Mas uma cópia sobreviveu, e hoje facilmente conseguimos assistir a essa preciosidade na íntegra no YouTube.

Nos anos 2000, mais uma versão nos é apresentada, e em minha humilde opinião, nada se salva nas duas incursões ao cinema. É tudo bobo e patético, nem mesmo a introdução do Surfista Prateado no segundo filme conseguiu salvar a franquia.

Chegamos a uma nova tentativa, uma nova visão. A Fox, que detém os direitos dos personagens tentou mais uma vez. E mesmo a Marvel/Disney tendo oferecido o uso de personagens que o estúdio da raposa detinha anteriormente, no caso, o Demolidor, em troca de liberarem o retorno dos fantásticos, a Fox disse não, pois tinha uma nova visão para todo esse universo. E lógico, com a força dos heróis crescendo nos cinemas, eles nunca abririam mão assim tão facilmente.

O diretor foi escolhido e foi uma surpresa bem agradável, já que Josh Trank fez um excelente trabalho no filme Poder Sem Limites, mostrando um grupo de jovens conseguindo seus poderes de forma misteriosa, e como eles reagiram frente a essa nova realidade.

Fui ao cinema de coração aberto, e mesmo sabendo de todos os problemas da produção, refilmagens, e todo o mistério em volta da gravação do filme, pois pouco do filme vazou durante as filmagens e ninguém comentava nada. Isso deixava todos que acompanham as notícias de cinema com um pé atrás.

O anúncio dos atores foi algo que me deixou esperançoso, afinal temos como Redd o jovem e talentoso Miles Teller; interpretando Sue Storm, Kate Mara. No papel do jovem e tempestuoso Johnny, um ator que já trabalhou com Josh, Michael B. Jordan. E para o Coisa, o versátil Jamie Bell.

O filme tem início, e percebo de cara uma forte referência ao universo Ultimate, inclusive na forma como eles adquirem seus poderes. É perceptível que a reformulação de Mark Millar é fonte de inspiração desse novo filme. E isso é bom, tudo se encaixa de forma bem interessante, transformando a película em algo que instigou minha curiosidade, com algumas pitadas de Sci-fi.

Logo de cara, somos apresentados a um jovem Reed Richards, que claramente é um gênio incompreendido e solitário. E vemos nascer uma improvável amizade com Ben Grimm. Amizade que, ao passar dos anos, apenas se fortalece. Eis que a máquina de teleporte criada por Reed chama a atenção do Dr. Franklin Storm (Reg E. Cathey), pois o projeto que Reed achava ser apenas um teleporte, abrangeria muito mais do que o jovem cientista sonhou.

Trabalhando com conceitos que funcionam muito bem, o filme claramente tenta ser mais sério e mais construído que seus antecessores. É aí que algumas falhas começam.

As refilmagens são bem perceptíveis, e a passagem de tempo acaba deixando as coisas um pouco confusas, mas nada que atrapalhe a narrativa. Os atores, mesmo sendo bons, parecem não estarem confortáveis em suas atuações, e em alguns momentos, os efeitos visuais parecem estranhos.
A mudança de etnia no personagem de Johnny não me incomodou e é bem explicada no decorrer. Mas sinto que um dos grandes problemas do filme fica por conta do Vilão.

Victor Von Doom (Toby Kebbell), não é um blogueiro como noticiado em alguns sites, mas sim um jovem e promissor cientista, que trabalhou no projeto anos antes de Reed. Claramente nutrindo sentimentos por Sue, o jovem antagonista em nada nos lembra o gênio forte e maquiavélico no Monarca da Latveria, que nos quadrinhos já nos apresentou grandes estórias e grandes momentos. Além disso, a caracterização do Dr. Destino é visualmente estranha, e chega a incomodar um pouco.

Após a estreia do filme, e a Fox manter linha dura em relação às criticas serem liberadas antes da estreia, muitas críticas negativas estão saindo, inclusive uma declaração no twitter do diretor Josh Trank dizendo que:

“Um ano atrás, eu tinha uma versão fantástica do filme, que teria recebido ótimas críticas. Vocês provavelmente nunca a verão. Essa é a dura realidade”

E apesar de todos os problemas serem perceptíveis, não considero o filme esse lixo que estão pintando, não. É claro que algumas ideias são confusas e apressadas, e as resoluções corridas, deixando algumas ideias em aberto, e por diversas vezes, com a sensação de cortes de continuidade mal feitos.

Mas algumas ideias são boas, inclusive na presença do exército, até porque se aparecessem super seres, seria óbvio que as forças armadas iriam tirar proveito desse poder. A relação dos personagens, apesar de corrida, dá sinais de uma construção para relações futuras. Afinal é essa a proposta de um novo universo, uma origem, uma nova visão. E tudo isso me deixou deveras curioso para ver o quem vem a seguir, pois sei que ali não é o Quarteto Fantástico que conheço dos quadrinhos, mas é algo novo, uma nova realidade que pode sim entrar nos eixos. Mas taxar como um dos piores filmes de super-heróis é esquecer-se de coisas bem terríveis que tivemos no passado.

 

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