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RPG | Analisando “O Caso Viserion” na sua mesa de jogo

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Se você não assistiu o último episódio de Game of Thrones, é melhor não abrir este link. Se já assistiu, vá em frente com cuidado, vamos analisar uma das cenas mais impactantes de ‘Beyond The Watch’. Afinal, Westeros pode servir muito bem numa mesa de RPG!

Com a sétima temporada de Game of Thrones arrancando nossos corações a cada episódio (que parece durar apenas dez minutos), era quase impossível não falar da saga que conquistou o mundo. Para quem não conhece e está dando uma de Jon Snow nas terras para-lá-da-Internet, As Crônicas de Gelo e Fogo é uma obra criada pelo norte-americano George R. R. Martin. O enredo resumidamente nos apresenta os Sete Reinos, no continente de Westeros, onde as grandes casas nobres lutam entre si, com espadas e com intriga, pelo Trono de Ferro. Martin nos apresenta a uma série de protagonistas que, juntos, narram os acontecimentos nos sete cantos do mundo, não apenas em Westeros, mas também no continente de Essos, depois do Mar Estreito, e nas áreas selvagens além da Muralha.

“Ah, Westeros!” (reprodução HBO)

Leonel Caldela, na revista Dragão Brasil #120, afirma que cada volume de As Crônicas de Gelo e Fogo não é um livro com vários protagonistas ao mesmo tempo, mas vários livros com um único protagonista cada um. E um mestre sabe que, numa mesa, cada um deve ser o protagonista da própria história! Com um cenário medieval e um sistema de protagonismo bastante singular, Westeros não requer muitos ajustes para uma mesa de RPG.

E é por isso mesmo que vamos analisar a chocante cena do sexto episódio em que o Rei da Noite mata o dragão Viserion com um único ataque de sua lança. Entrei num profundo debate sobre isso na faculdade com um colega e a pergunta que pairou foi a seguinte: é possível isso acontecer num sistema D20? Eu lhe digo que sim. Difícil e improvável, talvez, mas certamente não é impossível.

Atenção: é tudo baseado em probabilidades e nas teorias de um RPGista fã de As Crônicas de Gelo e Fogo!

Ignorando se o episódio foi excelente, ruinzinho, bastante coerente ou se jogou o roteiro nos sete infernos, vamos estabelecer algumas diretrizes para a cena em questão. Primeiro, vamos utilizar basicamente dois sistemas: D&D 3.5 e Tormenta RPG. Além disso, vamos considerar Viserion como um dragão adulto. Apesar de ser descrito nos romances como um dragão de escamas cor de creme, mas com os chifres, os ossos de suas asas e os espinhos no dorso de cor dourada, por suas habilidades, vamos usar a ficha de um dragão vermelho.

“Viserion em voo”, por Christopher Burdett

Dessa forma, usando a ficha de um dragão adulto comum, temos os seguintes valores para ele em Tormenta RPG: PV 286, CA 33, Fort +18 e Ref +13 e vulnerabilidade a frio. Além disso, o nível de desafio (ND) de Viserion ? ou seja, que nível é recomendado a um grupo de personagens para enfrentá-lo ? é de 16. Em D&D 3.5, os valores para Viserion são PV 218, Fort +16, Ref +11, CA 26 (toque 8, surpresa 26) e redução de dano 5/mágica, com ND 15. O Rei da Noite, portanto, teria de ser um personagem de nível consideravelmente alto, algo que já sabíamos, já que é atualmente considerado um dos maiores vilões da trama (embora Cersei se esforce muito para tomar seu lugar sob as luzes da ribalta).

Considerando uma rodada normal de RPG, Viserion agiria na mesma jogada que Daenerys, sua mestra, já que a única ação dela seria dar ordens a seus três dragões (um feito e tanto, tenho certeza de que ela tem altas graduações em Adestrar Animais). Portanto, estaria queimando o exército dos mortos com Rhaegal quando “chegou a vez” do Rei da Noite. E é aí que começamos a analisar o caso.

Primeiro, vamos definir algumas coisas a respeito do Rei da Noite. Considerei sua função na trama, a história que nos foi apresentada na série e o que pude obter nas wikis tanto do livro (Uma Wiki de Gelo e Fogo) quanto da série (Game of Thrones Wikia). Juntamente com as premissas colocadas a respeito de Viserion, defini o Rei da Noite da seguinte maneira: um morto-vivo de 19° nível, somente com seus níveis de criatura, mas com ND 16 devido aos poderes que demonstrou (como sua força superior e a capacidade de sentir o warg Bran Stark enquanto este dominava a mente de um corvo). Dessa forma, suas características relevantes seriam For 22, Des 20, PV 114, CA 19 e ataque à distância +14, nada de extraordinário. Lanças podem ser usadas como armas de arremesso, o que adiciona seu modificador de Força (no caso +6) nas jogadas de dano com a arma. Isso vale para ambos os sistemas. Eu poderia tê-lo definido como um guerreiro (o que lhe daria um maior bônus-base de ataque) ou um ranger (o que lhe concederia bônus contra dragões), mas preferi deixá-lo o mais simples possível simplesmente porque não temos tantas informações sobre ele por enquanto. Quanto aos talentos relevantes para o caso, escolhi Foco em Arma (lança), Na Mosca, Tiro Certeiro e Tiro Preciso. A partir daí, vamos às possibilidades.

Como o mestre se sente quando rola um acerto crítico. (reprodução HBO)

Fica em claro no episódio que a lança usada pelo Rei da Noite não é uma lança normal. Ela parece ser feita inteiramente de gelo (ou ao menos sua parte mais afiada). Portanto, a partir das opções dos dois sistemas, podemos considerá-la uma lança feita de gelo eterno (material especial descrito no Módulo Básico de Tormenta RPG e que não precisa de grandes alterações para D&D 3.5), que causaria +1 ponto de dano de frio em cada jogada de ataque. Além disso, alguns aprimoramentos a considerar na arma seriam colocá-la como uma lança de gelo eterno da explosão congelante +1, o que daria +1 em todas as jogadas de ataque e dano e 1d6 de dano adicional por frio e mais 1d10 em caso de acertos críticos (um 20 natural nos dados).

A magia é uma força rara em Westeros, voltando à despertar graças à intervenção de Daenerys e seus dragões, segundo alguns fãs, de forma que o Rei da Noite tendo “apenas” uma arma +3 com material especial é razoável, mas vamos evoluí-la um pouco mais para as mesas de jogo, trazendo-a mais próxima de Arton e Greyhawk. Se a considerássemos uma arma anticriatura feita para combater dragões, ela incluiria +2 nas jogadas de ataque e mais 2d6+2 na jogada de dano contra Viserion. Seria uma arma +4, nada de grandioso. Nas mãos do Rei da Noite, seu ataque à distância total seria de +18 (1d6+21 de perfuração mais 1d6+1 por frio mais 2d6+2 contra dragões mais 1d10 em caso de crítico).

Quanto à jogada do Rei da Noite, em média, colocamos um valor 10 para simular jogadas entre personagens (algo muito útil para mestres enquanto preparam suas campanhas), mas, nos atendo ao episódio, vamos focar nos 5% de chance de termos um 20 natural em sua jogada. Pelas regras, um acerto crítico configura um acerto independente do valor. Ainda assim, sua jogada de ataque total seria 36, mais que suficiente para suplantar as CA 33 e 26 dos dois sistemas. Mil desculpas, Daenerys Nascida da Tormenta, seu filho foi atingido!

Como o jogador se sente quando o mestre rola um acerto crítico. (reprodução HBO)

Alguns sistemas pedem uma confirmação de um acerto crítico, como Pathfinder, o que diminuiria, e muito, as chances dele acontecer. A probabilidade de dois 20 sucessivos ficaria em torno de 0,25%, ou seja, extremamente improvável: o Rei da Noite acertaria o ataque mas não incluiria os bônus de crítico. Mas, graças aos deuses novos e antigos, estamos considerando apenas D&D e Tormenta.

Com um acerto crítico, o total de dano causado ficaria entre 54 e 147, muito abaixo dos pontos de vida de Viserion em qualquer um dos dois casos. Sua redução de dano em D&D não seria aplicada, pois se trata de uma arma mágica, mas em TRPG temos de considerar sua vulnerabilidade a frio: o dano causado ficaria entre 71 e 251, ainda assim abaixo dos pontos de vida totais de Viserion em TRPG, mas em D&D já estaria morto no caso das rolagens máximas!

Mas e se considerarmos sua queda? Viserion voava e atacava de maneira contínua (o que nos traz o talento Pairar como parte de sua ficha). A queda teria sido suficiente para terminar seus pontos de vida? Segundo o Módulo Básico (edição revisada) de Tormenta RPG e o Livro do Mestre (versão 3.5) de D&D, o dano da queda é de 1d6 para cada 1,5m de queda. E o sopro de Viserion teria um alcance de 9 m, em média (embora na série ele estivesse muito acima, mas vamos considerar esse valor). Dessa maneira, mais 6d6 de dano para Viserion em decorrência de sua queda (entre 6 e 36 de dano). No total, o dragão recebe entre 78 e 287 pontos de dano. Sim, Viserion morreria…

A morte de um personagem pode ser considerada parte da Lei de Martin: “todo leitor será frustrado pela morte de um personagem querido”. (reprodução HBO)

Mas qual a probabilidade de acontecer um acerto crítico com todas as rolagens máximas para o dano da arma e da queda? Fiz as contas (que podem muito bem estar errados, leitores que lidam com probabilidades, por favor, me corrijam) e o resultado é ficou por volta de 0,00000011% de chance de que algo dessa forma aconteça, bem perto do que diríamos impossível, mas não se esqueçam: em RPG nada é impossível, existem jogadores e mestres que fazem pacto com Tique, a deusa grega da boa sorte! Acreditem, eu falo por experiência própria!

Mestre: “Vou já acabar com a farra desse jogador apelão.”

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