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Stranger Things: 3ª Temporada | Mais estranha, mais aterrorizante, mais divertida!

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Stranger Things chegou à Netflix para sua terceira temporada, após o hiato de um ano.

Retomamos à história no verão de 1985, seis meses após os garotos derrotarem a primeira manifestação do terrível Devorador de Mentes. Mas, como Hawkins parece o lugar menos seguro do mundo para se viver quando se trata de ameaças sobrenaturais vindas de outras dimensões, mais uma vez alguém vai tentar explorar o Mundo Invertido e, como consequência, coisas ruins vão voltar a acontecer e caberá a quem resolver a m… toda? Isso mesmo, é neste cenário que nos reunimos a mais uma aventura com Eleven, Mike, Will e toda a turma.

Millie Bobby Brown retorna para sangrar e sangrar, mais do que nunca!

Esta temporada repete basicamente a mesma receita das duas anteriores. Seus primeiros capítulos atendem a uma cadência própria, narrando as consequências deixadas pelos eventos da temporada anterior e o rumo que a vida dos seus personagens seguiu, ao mesmo tempo em que a ameaça da temporada é contextualizada e trama começa a se movimentar. A partir dos episódios de meio de temporada, o ritmo da trama começar a crescer à medida que o nível da ameaça e as explicações vão gradativamente aparecendo, culminando no desfecho do roteiro.

Uma das marcas registradas da série é a maneira como seus episódios são construídos, seguem invariavelmente um ritmo constante, equilibrando os elementos de sua narrativa de forma a manter a audiência interessada no desenrolar de sua história o tempo todo. Há um claro cuidado na estética visual desde os cenários e seus respectivos elementos passando pelo figurino e pelos diálogos dos personagens, hábitos, a incidência da tecnologia usual da época, elementos culturais e questões sociais. Toda esta estrutura narrativa evidencia as qualidades do bom roteiro apresentado nesta temporada, com uma mitologia já estabelecida nas temporadas anteriores, a campanha atual se dedica a contar sua história e a desenvolver seus personagens.

A série vai, ao longo desta temporada, construindo os relacionamentos entre os personagens. Novas relações surgem ao passo que vemos antigas seguindo novos rumos. Dilemas são expostos no desenvolver destas relações que, ainda que de forma leve e sutil, convidam a audiência a refletir sobre questões sociais e culturais, com discussões pertinentes não só à época em que a história acontece, mas ao nosso tempo atual.

A história em si é boa, segue a proposta da mitologia estabelecida na série de forma coerente, sem complexidades excessivas, com um antagonista que representa, sim, uma ameaça legítima, movimenta a trama e dá o tom de urgência que dele se espera.

E claro que as referências e easter eggs são um show a parte, sutis ou escancaradas elas estão lá o tempo todo durante toda a temporada. “Exterminador do Futuro”, “Alien”, “George Romero”, “Gremlins”, “De Volta Para o Futuro”, até a paranoia americana de uma infiltração secreta russa em solo americano está presente, afinal de contas o que é mais anos 80 do que a Guerra Fria?

Isso sem falar na trilha sonora, assim como nas temporadas anteriores além se ser muito funcional reúne sucessos atemporais de nomes como “The Who” e “Madonna”. Visualmente também a série entrega, cenários e figurinos fazem parte de uma atmosfera que de fato transporta o espectador para os anos 80. A forma como a paleta de cores é utilizada também é destaque em uma fotografia que administra muito bem todos os seus elementos, inclusive a iluminação,mesmo nas cenas em que as trevas imperam tudo é absolutamente visível em tela.

E assim como nas temporadas anteriores, Stranger Things continua bebendo muito de fontes como “Os Goonies”, “IT – A Coisa” e “Conta Comigo” e seus personagens continuam sendo o ponto alto da série.

Uma dupla dessas bicho!

O núcleo das crianças agora precisa lidar com um cenário bem diferente das temporadas decorrente principalmente da recém chegada adolescência. Conflitos passam a existir, já que os garotos começam a ter interesses muito diferentes, principalmente Will (Noah Schnapp) que apesar de não ser mais o hospedeiro das entidades vindas do Mundo Invertido, ainda sente os efeitos do acontecimentos passados enquanto precisa lidar tanto com suas próprias incertezas, quanto a decepção de ver que seus amigos (assim como ele) estão crescendo.

Todo o núcleo principal apresenta uma interessante evolução com mudanças de posturas importantes mas mantendo a individualidade e a essência dos personagens, onde todos tem sua importância para o desenvolvimento e desfecho do filme, uma escolha válida do roteiro, que foge do clichê de deixar para a Eleven (Millie Bobby Brown) resolver tudo. Claro que ela continua muito importante para a trama, mas desta vez novos aspectos de sua personalidade são explorados, principalmente na amizade com Max (Sadie Sink) dando mais camadas para a continuidade da personagem nas próximas temporadas. Eleven caminha para ser a grande heroína da série, mas é mais do que justo e necessário que isto venha a ser  aos poucos valorizando os outros importantes personagens no processo, e neste ponto Dustin (Gaten Matarazzo) mais uma vez rouba a cena, com todo o seu carisma e seu jeito particular de lidar com uma crise que claramente é muito maior do que todos ali envolvidos.

Dustin (Gaten Matarazzo) e Steve (Joe Keery) retornam com a dupla mais inusitada de toda a série!

Erica (Priah Ferguson) retorna da temporada anterior desta vez com mais tempo de tela, no começo é uma personagem que funciona bem, mas ao longo da temporada acaba sendo uma personagem excessivamente repetitiva, e no final irrita mais do que agrada. Já Maya Hawke da vida a Robin, que vende carisma ao longo de toda a temporada, uma coadjuvante relevante ao longo da toda a temporada que faz uma dupla impagável com Steve (Joe Keery) e de quebra garante a representatividade na trama levantando um importante discurso sobre opção sexual na adolescência, algo que na década de 80 era visto e tratado e uma maneira muito diferente do que na atualmente. Aliás a série faz uso de situações dispostas para seus personagens para propor discussões sobre temas muito recorrentes aos dias atuais e mostrar como eles eram vistos e tratados naquela época, Nancy (Natalia Dyer) por exemplo sofre com o preconceito e o machismo em seu ambiente de trabalho.

Maya Hawke, filha de Ethan Hawke e Uma Thurman como Robin.

Mas a terceira temporada de Stranger Things, parece ter decidido dar o foco do protagonismo para o núcleo adulto dos personagens, até como uma forma de oxigenar a trama, e entregar uma história que fugisse da repetição da soluções de roteiros já vistas nas temporadas anteriores.

Joyce Byers (Winona Ryder) se tornou ainda mais importante nesta temporada, divergindo da impressão deixada no início da série, de que a personagem ficaria renegada ao papel de interesse romântico de Hooper (David Harbour), ainda que a relação entre os dois tenha recebido muita atenção nesta temporada, ainda que por vezes fique chato acompanhar cenas e mais cenas de desavenças e discussões entre ambos, somente para disfarçar uma atração que existe no ar. Mesmo que todo este contexto seja importante para justificar alguns acontecimentos vistos no final da temporada. Hooper segue a mesma linha das temporadas anteriores, tendo que lidar com o dilema de ser pai de uma adolescente nada convencional como a Eleven, e como se isto por si só já não fosse o suficiente a jovem ainda engatou um namoro com Mike (Finn Wolfhard), a dinâmica entre os três no início da temporada rendeu momentos divertidos.

Winona Ryder e David Harbour fazem o “par romântico-atrapalhado” no show.

Billy (Drace Montgomery) na temporada passada já havia ganhado nosso desprezo, mesmo que seu comportamento tenha sido justificado pelo  relacionamento abusivo com o pai, algo que nesta temporada é melhor explorado. O papel destinado ao personagem nesta temporada acaba sendo válido, e seu desfecho é digamos, justo, e pode agradar e emocionar (ou não) conforme o conceito que você desenvolveu para o personagem.

Drace Montgomery, o badboy está de volta. E piorado!

A temporada termina encerrando a história nela contada, mas claro deixando pontas para serem amarradas numa temporada seguinte, que pode levar a historia para um patamar num outro pano de fundo, como podemos deduzir graças a cena pós crédito.

Stranger Things entregou sua melhor temporada, deixou de ser uma série que fazia referências aos anos 80 para ser de fato uma série dos anos, com todas as licenças criativas e o tom “no sense” característicos das produções da época.

E que venha a quarta temporada!

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