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Titans S02E05-06 | A temporada, enfim, começa a engrenar
Publicado há
5 anos atrásem
Considerar apropriado o ritmo mais lento e cadenciado no início de uma nova temporada é algo normal, afinal de contas é justamente nesta fase que a história se estabelece, os personagens são apresentados e desenvolvidos e as relações consolidadas, encaminhando a trama para o seu desfecho e revelações finais. Mas nada justifica o ritmo sonolento e o desenrolar equivocado dos primeiros episódios da nova temporada de Titans.
A morosidade da história e, salvo raras exceções, chatice das relações, pareciam impedir que a trama engrenasse. Até que no quarto episódio, “Aqualad”, um enorme flashback que cumpriu seu papel em dar mais dinâmica à série, trouxe revelações importantes a respeito do passado dos Titãs e seu reflexo nos acontecimentos presentes.
Contudo os dois últimos episódios da segunda temporada, “Deathstroke” e “Conner” parecem o início de um processo que pode devolver a série ao caminho que a consagrou em sua temporada anterior.
S02E05 | Deathstroke
É fato que a série ainda não satisfez o meu desejo no que diz respeito a exploração de todo o potencial que o Exterminador (Esai Morales) possui, mas é preciso reconhecer que neste quesito a mesma parece estar no caminho certo, retratando o nível de ameaça que o personagem pode representar, graças não só as suas habilidades físicas (comparáveis às do próprio Batman) mas principalmente pelo seu intelecto. De fato o plano do vilão para aprisionar o Robin Jason Todd (Curran Walters) e usá-lo como isca para atrair o restante dos Titãs foi bem apresentado na série, e você compra bem a ideia.
Suas motivações são mais claras, mesmo que ainda hajam pontos obscuros no passado do vilão com os Titãs, e aliás, os fantasmas do passado continuam dando o tom desta temporada. Traumas que impedem que a equipe dos Titãs seja, de fato, uma equipe, tanto pelos pecados coletivos, quanto pelos dilemas individuais que cada um dos membros demanda.
Ainda assim, é preciso dizer que, ao contrário dos episódios iniciais, onde a série caiu de qualidade justamente quando a equipe se reuniu, as coisas agora parecem mais sólidas, e com uma perspectiva de um melhor desenvolvimento, já que as intenções dos membros da equipe parecem mais claras, assim como as questões que atormentam cada um deles. A química que faltava na junção da equipe parece surgir aos poucos e ainda que não sejam de fato um time, foi interessante ver os Titãs reunidos em ação.
Interessante que os novos membros, se não tem um passado pesado para lidar, também tem árduo caminho pela frente. Ravena (Teagan Croft) está cercada de medo e insegurança por conta dos novos poderes adquiridos desde seu encontro com Trigon no primeiro no primeiro episódio. O reflexo dos problemas da garota podem e vão refletir em toda a equipe. Será interessante ver como o roteiro irá lidar com esta situação, considerando os problemas atuais que o grupo enfrenta.
Trazer Estelar de volta com o restante da equipe também é um ganho para a série. Além da excelente qualidade da atriz Anna Diop, a personagem para o qual uma boa parte dos fãs torceu o nariz no início da série, se mostrou uma das mais importantes e interessantes ao longo da trama. Foi péssimo ver o potencial de Kory ser desperdiçado numa subtrama arrastada no início da segunda temporada (ainda que, claramente, seja algo necessário para dar mais camadas tanto a personagem quanto a história como um todo).
Ao lado de Kory, Dick Grayson novamente foi o destaque do episódio. Brenton Thwaites há muito é o maior destaque da série. O ator caiu como uma luva para o papel de Dick Grayson e assimila muito bem as demandas do personagem, seus medos e dúvidas, suas decisões que nem sempre são acertadas e sua necessidade de mudança para se tornar de fato um bom líder. Imagino como deve ser difícil absorver este tipo de necessidade por alguém que foi criado pelo Batman!
De negativo, o episódio tem a luta entre Dick e Kory contra o Exterminador. A coreografia não me agradou. Faltou intensidade e contundência nos movimentos, e não me entra na cabeça alguém com o nível de poder da Kory enfrentando o Exterminador na porrada! Ela poderia ter incinerado o cara, no mínimo, usado seus poderes para incapacitar o adversário. Os diálogos que tem sido um problema recorrente na temporada apresentaram uma ligeira melhora, que se estendeu pelo episódio 06.
Outro ponto negativo foi a morte do Dr. Luz (Michael Mosley). Não que o personagem fosse um vilão memorável ou carregado de potencial, até o momento sua trajetória acompanhou a monotonia que dominava a temporada. Sua morte acaba por ser precoce para um personagem que poderia ser melhor explorado. No final das contas acabou servindo apenas para movimentar a trama e dar mais peso ao plano de vingança do Exterminador.
No geral o quinto episódio da série foi bom. Referenciou momentos interessantes dos quadrinhos e parece começar a levar a trama para um novo e interessante estágio.
S02E06 | Conner
Desde sua primeira aparição nas cenas pós-créditos do episódio final da primeira temporada de Titãs, a expectativa por ver o Superboy em ação era grande.
O sexto episódio da nova temporada foi todo ele dedicado não só a apresentar o personagem e sua origem, mas também a aumentar a mitologia da série, mencionando personagens e eventos familiares aos leitores de quadrinhos, e importantes para expansão do universo onde a história da série está inserida.
Joshua Orpin deu vida ao Superboy/Conner Kent e, mesmo representando um personagem totalmente deslocado do mundo, não faltaram esforços do ator em suas expressões faciais e corporais para denotar os sentimentos confusos de seu personagem.
A origem do seu personagem na série está totalmente ligada a mesma nos quadrinhos. A clonagem, a participação do Superman e Lex Luthor no processo, o sinistro Projeto Cadmus, e muitos outros elementos estão lá.
Conner literalmente “nasceu ontem”, e o episódio vai muito bem ao explorar não só a inocência, mas outros aspectos da personalidade do Superboy, principalmente a influência que a personalidade dos seus “pais” exerce sobre ele, considerando principalmente o enorme senso de altruísmo e justiça herdado do Superman, mas também o descontrole violento e compulsivo, característicos de Lex Luthor.
Se houve o acerto do episódio na construção de Conner, o mesmo pode ser dito na entrega da ação. Considerando, claro, as limitações orçamentárias de uma série de TV, os efeitos melhoraram bastante em relação aos episódios anteriores. A sequência na casa dos Luthor, é muito bem feita, inclusive nas passagens envolvendo o Krypto, que na maior parte do tempo é um cachorro comum, e acaba por manifestar seus poderes em alguns momentos pontuais. O cão não atrapalha, mas também não agrega muita coisa e acaba por funcionar bem principalmente como um fanservice para quem gosta dos Super Pets.
O momento mais dramático do episódio ficou reservado para o final, quando Conner tem uma dolorosa amostra do que a humanidade é capaz de fazer em meio a sua gananciosa busca por poder, quando o Superboy é levado às antigas instalações do Cadmus para contemplar as outras tentativas frustradas de clonar o Superman, até que se chegasse ao resultado da necessidade da estabilizar o DNA kryptoniano com DNA humano, o que explica a presença dos genes de Luthor em Conner. O efeito é duro, mas poderia ser ainda mais devastador se a índole do Homem de Aço não falasse mais alto dentro da mente de Conner.
O final do episódio nos leva justamente aonde história parou, quando prendemos a respiração no momento em que vimos Jason Todd despencar de um prédio para a morte certa, o que não acontece graças a intervenção de Conner. Mas o alívio dos fãs durou pouco, já que na sequência vemos Conner ser atingido com balas de Kriptonita e Krypto ser capturado por Mercy Graves (Natalie Gudman), a fiel guarda-costas de Luthor. Mais um episódio que deixou um gancho para deixar os fãs na expectativa por mais uma semana.
O episódio 06 é, em minha opinião, o melhor episódio da série até o momento. A introdução de Conner na história e sua possível adição aos Titãs abre espaço para muitas opções de roteiro. Para citar apenas uma, uma possível aliança entre Luthor e o Exterminador, já que ambos têm interesses comuns em relação aos Titãs.
Deixando o marasmo e a monotonia para trás, Titans enfim se aproxima do nível da primeira temporada, abrindo boas expectativas para a continuidade da trama, tanto nas possibilidades que o enredo pode explorar, quanto na adição de camadas aos personagens e aos seus respectivos relacionamentos.
Titans é transmitida originalmente pelo serviço de streaming DC Universe nos EUA. No Brasil a primeira temporada foi distribuída pela Netflix, que ainda não se manifestou quanto a uma possível estreia da segunda temporada.
Conheceu os quadrinhos (que carinhosamente chama de Gibi) no fim dos anos 80 e deles nunca mais se separou. Gamer old school, ávido devorador de bons livros, amante da sétima arte, comentarista de rádio. Escreve para uma comunidade de cultura pop, e é o mais recente membro honorário do Conselho de Elrond.