Depois de dois episódios muito bons, que tiraram da série do marasmo em que se encontrava anteriormente, era esperado um sétimo episódio que, mesmo que não fosse tão empolgante quanto aos anteriores, ao menos conseguisse manter a história desenvolvida e interessante.
De imediato é preciso dizer que, sim, apesar do ritmo cadenciado do episódio, o roteiro continua movimentando e evoluindo a trama.
Pelo título do episódio, somos compelidos a entender que Bruce Wayne (Iain Glen) estaria presente no mesmo mas, para nossa surpresa, a presença do milionário (recorrente em praticamente o episódio todo), não passou de uma representação da consciência de Dick Grayson (Brenton Thwaites) convidando o ex-Robin a reconhecer seus erros, admitir suas falhas e assumir e exorcizar seus fantasmas do passado.
Por mais que Glein tenha caído bem como Bruce Wayne, sua presença neste episódio alterna bons e maus momentos. Existem bons diálogos presentes em determinadas cenas que valorizam o sentimento de culpa, conflito e pesar de Dick Grayson em seu claro fracasso de liderar a nova formação dos Titãs. Em contrapartida, há momentos em que, sinceramente, a presença de Bruce é desnecessária e até vexatória.
A temporada que gira em torno dos pecados passados dos Titãs e suas consequências costura sem complexidades excessivas sua trama, de forma que a audiência vai organizando as peças do quebra-cabeças dimensionando o que, de fato, aconteceu entre os heróis e o Exterminador (Esla Morales). Contudo, surpresas ainda devem acontecer antes que a verdade dos fatos realmente venha a tona. Ou seja, não acredito que o princípio de confissão de Dick seja a verdade singular dos fatos.
Ainda que o foco do episódio esteja sobre Dick e “Bruce”, o capítulo conta com alguns pequenos arcos paralelos como, por exemplo, o destino de Conner (Joshua Orpin) e do supercão, Krypto. Conner caiu nas graças dos fãs depois do seu excelente episódio de estreia. O roteiro lida bem com o desenrolar do arco do Superboy e, de quebra, ainda sinaliza uma relação interessante que pode ganhar corpo nos próximos episódios.
Por mais que, no geral, o episódio responda bem a necessidade de dar um andamento interessante e coerente a trama, algumas escolhas que o roteiro faz são bem questionáveis como, por exemplo, o súbito e inexplicável interesse de Rose Wilson (Chelsea Zhang) por Jason Todd (Curran Walters), apenas para que a garota descobrisse um indício que ligasse os Titãs ao assassinato de seu irmão. Em momento algum a série sequer sinalizou algum princípio de interesse, quanto mais desenvolveu qualquer clima entre Rose e Jason. A menina, desde sua chegada à Torre Titã, sempre foi um barril de pólvora prestes a explodir. Se a personagem precisava encontrar a tal prova para o enredo funcionar, poderia ter sido feito de outras formas, aproveitando a proximidade da personagem com outros membros da equipe. Toda a cena até a descoberta de Rose acaba por não soar com a naturalidade necessária para que, de fato, o espectador compre todo o contexto envolvido.
Jason Todd como o contraponto à serenidade e o equilíbrio recorrentes a alguém que tenha sido criado pelo Batman, continua sendo um dos personagens mais promissores da série. Novas nuances recaíram sobre Jason depois de seu encontro com o Exterminador, além de servir como uma ferramenta para enfraquecer o psicológico dos Titãs. Novos detalhes da personalidade do pupilo de Bruce Wayne podem, se adequadamente explorados, colocar o personagem e a história em cenários futuros muito interessantes.
Sabendo que esta temporada terá 13 episódios, dois a mais que a temporada anterior, o sétimo episódio se mostra um capítulo cadenciado de transição, uma necessária preparação para o enredo chega forte a sua reta final.
Ainda que o nível e o ritmo tenham caído em relação aos dois últimos episódios, a temporada sinaliza boas possibilidades para seus episódios finais. Com certeza a temporada atual está devendo em relação a qualidade a sua antecessora contudo, claramente se trata de uma etapa de transição necessária que deve, ao seu final, levar história e personagens a outro patamar.
Titans é exibido atualmente pelo serviço de streaming DC Universe. No Brasil a primeira temporada está disponível na Netflix, sem previsão para a estreia da segunda temporada.
Conheceu os quadrinhos (que carinhosamente chama de Gibi) no fim dos anos 80 e deles nunca mais se separou. Gamer old school, ávido devorador de bons livros, amante da sétima arte, comentarista de rádio. Escreve para uma comunidade de cultura pop, e é o mais recente membro honorário do Conselho de Elrond.