Diferente da temporada anterior (que havia sido muito bem recebida pelos fãs), que desde o seu primeiro episódio já parecia muito bem resolvida, principalmente no que diz respeito a tom, linguagem e abordagem, Titans trouxe uma segunda temporada que não conseguiu decolar, apesar das boas ideias.
Novos personagens, novos vilões (entre eles ninguém menos que o Exterminador), e a expectativa de, enfim, vermos a equipe dos Titãs consolidada.
Esta temporada optou por voltar ao passado para contar os eventos que levaram a separação dos Titãs originais e suas consequências, que pavimentaram a tão esperada transformação de Dick Grayson (Brenton Thwaites) em Asa Noturna. A narrativa, porém, em momento algum engrena. Com exceção de 2 ou 3 episódios, esta foi uma temporada morna, de diálogos e soluções de roteiro bem questionáveis. Infelizmente, o episódio final da temporada não foi diferente.
Depois da mal justificada passagem pela prisão, ponto final na trajetória da origem do Asa Noturna, enfim vemos o herói em ação, acertando as contas com o Exterminador, seu maior inimigo. O problema é que a temporada não construiu adequadamente este momento. Nem mesmo o episódio valoriza o confronto. A luta é curta, seu desenrolar é frio e nada empolgante, e seu desfecho decepcionante (sério mesmo que os caras mataram o Exterminador? O personagem de Esai Morales foi uma das melhores coisas desta temporada).
Asa Noturna encarando o Exterminador
Mais do que desperdiçar um personagem imensamente promissor (imagine as boas histórias que a dinâmica Exterminador/Titãs poderia gerar), a série entrega uma solução ruim e preguiçosa para desenrolar os seus imbróglios. Principalmente no que diz respeito ao arco de Jericho (Chella Man), o principal motor desta temporada, que perde totalmente o peso de suas consequências, com a maneira com que seu desfecho foi construído.
O episódio prossegue com a necessidade de encerrar o arco de Conner/Superboy (Joshua Orpin) e Gar/Mutano (Ryan Potter), mais uma sucessão de escolhas preguiçosas e infelizes. Por mais que depois do retorno de Dick Grayson a missão de resgatar Conner e Gar das garras do sinistro Projeto Cadmus sejam razões mais do que suficientes para reunir os Titãs, essa união acontece de forma muito artificial. Mesmo acompanhando a maioria destes personagens a dois anos, a temporada não motiva o expectador a se importar com o destino dos personagens, mesmo não se eximindo em trabalhar ao longo dos episódios anteriores os dilemas e questões de seus heróis.
O roteiro do episódio opta por apresentar Gar e Conner controlados mentalmente pelo Projeto Cadmus e enquanto Ravena (Teagan Croft) usa seus poderes, que ela ainda não entende a extensão, para livrar a mente de Gar do domínio do Cadmus, Donna Troy (Conor Leslie) enfrenta o Superboy. Nada contra, afinal de contas, quantas vezes não vimos a Mulher-Maravilha enfrentar o Superman, né? Em tese o confronto de Conner (clone do Homem de Aço) e Donna (uma amazona) seria mesma coisa, em proporções menores claro! O lance aqui é observarmos que alguns episódios atrás Donna foi derrotada pelo Exterminador até com certa facilidade, no mano a mano, ou seja, fica difícil acreditar que a garota poderia ser uma desafiante a altura para o Superboy.
Asa Noturna e Devastadora unidos contra o Exterminador
Pior do que isso, depois do desfecho e da mente de Conner também ter sido libertada, depois de um monólogo chato embasando a união dos Titãs, subitamente uma torre de energia cai e, para salvar as pessoas e sua amiga Columba (Minka Kelly), Donna se põe a segurar a torre. Sustentando o peso da torre, uma alta descarga de energia passa pelo corpo da garota-maravilha, que não resiste a descarga e morre! Pois é, ela enfrentou Conner, que tem um poder próximo ao do Superman e resistiu, mas morreu com uma descarga elétrica.
A morte de Donna dá um tom de tristeza e traz um tipo de licença poética, já que uma vez que o luto um dia separou a equipe, agora o luto os uniria de vez. O recurso seria válido se a construção para uso do mesmo tivesse adequadamente trabalhada para tal e, claro, que a heroína merecia uma morte mais heroica e mais digna. Antes ela tivesse morrido em sua luta contra o Exterminador.
O final nos reservou mais um discurso meio vazio, que nem mesmo a aparição de Bruce Wayne (Iain Glen), deu vazão ao mesmo. Aliás, esta foi uma das poucas vezes que Bruce apareceu de verdade na temporada, (não era sonho, ilusão, alucinação…). E a certeza que mesmo em meio as dores coletivas e individuais, os Titãs agora eram novamente uma equipe, me pergunto o quanto de sofrimento foi gerado desnecessariamente até que este momento efetivamente chegasse? E, não que isso seria um problema, pelo contrário, o drama é, sim, necessário desde que seja corretamente administrado, e que as ações tenham consequências válidas e coerentes ao longo da história.
Conor Leslie deixa a série após a morte de Donna Troy
O elenco no geral não compromete. Claro que Brenton Thwaites é o grande destaque, mas outros nomes também chamaram a atenção. Casos dos estreantes Esai Morales (Exterminador) e Chelsea Zhang (Devastadora), além de Curran Walters (Jason Todd) e Anna Diop (Estelar) veteranos da temporada anterior, mesmo desfavorecidos por diálogos apenas regulares, entregaram um trabalho muito bom. Ambos estão pedindo passagem para uma posição de maior destaque em sua terceira temporada.
No geral, a segunda temporada de Titãs deixou, sim, a desejar. Não foi totalmente desastrosa como seu último episódio, mas ficou devendo em qualidade. Pode até ser que este seja um momento transição importante para consolidar a reunião da equipe e sua consequente mudança de patamar mas, claro que isto poderia ter acontecido e, ainda assim, a história poderia ser mais dinâmica e interessante.
As cenas finais do último episódio mostraram que Estrela Negra, a irmã de Estelar, deve ser a vilã da próxima temporada, onde espera-se que os roteiristas acertem a mão novamente e tenhamos uma temporada que responda em qualidade ao desempenho da primeira.
De 0 a 10, a segunda temporada de Titans merece no máximo um 6!
Brenton Thwaites: enfim o Asa Noturna apareceu nas telas
EDIT:
A segunda temporada de Titans chega ao Brasil pela Netflix, em 10 de janeiro de 2020.
Conheceu os quadrinhos (que carinhosamente chama de Gibi) no fim dos anos 80 e deles nunca mais se separou. Gamer old school, ávido devorador de bons livros, amante da sétima arte, comentarista de rádio. Escreve para uma comunidade de cultura pop, e é o mais recente membro honorário do Conselho de Elrond.