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Velha Imagem | Os Personagens da Terceira Idade

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Cabelos brancos, pele enrugada, corpo frágil, olhos cansados, joelhos doloridos. Sabedoria antiga, perspicácia superior, força de vontade, língua ferina. Como é a melhor idade nas estórias?
Estamos sempre acostumados a ver os heróis como os jovens, cheios de vitalidade e imprudência, resolvendo problemas e desafiando as regras. Os idosos, quando retratados, são geralmente coadjuvantes, detentores de sabedoria e tradição, mas sem a força para realizar as grandes ideias que podem ter. Ou, o contrário, frágeis demais, atrapalhados e precisando ser protegidos. Mas também podem seguir o caminho da vilania.
A figura mais comum do mago é o velho de barbas brancas com enorme sabedoria. De Merlin a Alvo Dumbledore, a representação do poder vem sob a forma da idade. Quem não se lembra em Yu-Gi-Oh quando o Mago do Tempo de Joey envelheceu o Mago Negro de Yugi, tornando-o o poderosíssimo Sábio Negro? J. K. Rowling nos presenteou com Alvo Dumbledore e sua sabedoria imutável, antiga, onde as rugas e os oclinhos meia-lua só aumentam seu prestígio e muitas vezes é descrito como ágil no meio da batalha, só para depois ser mostrado como alguém mais frágil. Nick Snowbeard, o velho mago de Cinda Williams Chima nos primeiros volumes de Crônicas dos Herdeiros, também carrega essa magia ancestral sob a ilusão da fragilidade do velho. O rei Hrothgar, no Ciclo da Herança de Christopher Paolini, aparece na linha de frente do exército anão brandindo seu martelo de batalha, numa clara demonstração de força, e com uma perspicácia política muito particular. Saruman e Gandalf de O Senhor dos Anéis, são magos poderosos e justamente por isso, velhos! Até mesmo Star Wars nos colocou de frente à idade poderosa com seu vilão Palpatine.
Mas, nem só de poder vivem os personagens da melhor (aqui carregada um um toque de sarcasmo) idade. Apesar de descritos como cheios de poder (mágico, político ou até mesmo marcial), temos os exemplos do Merlin de A Espada Era a Lei, o tio Chan em As Aventuras de Jackie Chan e o rei Bumi de Avatar: A Lenda de Aang para mostrar o lado cômico da idade. A Disney representa o mago mais famoso do mundo como um desastrado e esquecido arcano. O tio de Jackie Chan (que até hoje se desconhece o nome) é ranzinza e cheio de manias. Bumi é um rei cheio de manias e esquisitices (mesmo entre outros sábios, como Iroh, Jeong Jeong e Pakku). Até mesmo O Senhor dos Anéis colocou o velho como o alívio cômico em Radagast, que possui muito conhecimento, mas é retratado um tanto quanto atrapalhado nas telonas.
Muitas vezes, os idosos são o alívio cômico das obras, apesar de sua habilidade.
Às idosas são legadas a dois papeis: a de atrapalhada ajudante ou de vilã terrível. O envelhecimento, para elas, traz mais estereótipos que para os homens. Talvez um reflexo da sociedade? Possivelmente. Enquanto para eles a idade traz inegável poder apesar de tudo, para elas traz mais fragilidade. Basta olharmos os sete deuses de George R. R. Martin em suas Crônicas de Gelo e Fogo. Temos o Ferreiro, mas não há tanta indicação da terceira idade como há na figura da Velha e sua lanterna.
Além de aparecerem em muito menor número (e com menor relevância), as bondosas senhoras dos livros e das telas seguem o modelo da avó bondosa, gordinha ou magricela (muito raramente um meio-termo) que existe para trazer humor, lembranças de casa de vó e um toque de magia. A Fada Madrinha de Cinderela, tia Millicent Middleton em O Herdeiro Dragão e a vovó Fa em Mulan são grandes exemplos disso. Sempre coadjuvantes e atrapalhadas, apesar de sua sabedoria, e muito enfraquecidas. A tia Millicent de Cinda Williams Chima e Batilda Bagshot de J. K. Rowling vão além: foram magas de grande poder e conhecimento, mas uma é mantida dopada com poções que suprimem sua magia pois tornou-se um perigo para si mesma, enquanto a outra teve a mente invadida por suas lembranças sem o menor escrúpulo, ambas completamente gagás, se pudermos nos fiar na (também velha e ranzinza) descrição tia Muriel.
Para as vilãs, nada melhor que colocá-las no papel de bruxas enrugadas e corcundas. A figura da velha é também sinal de sabedoria e poder, mas com um quê de vilania. Seu isolamento reflete o isolamento que até hoje sofrem na sociedade. São retratadas como vivendo em cabanas na floresta, castelos arruinados ou cavernas escuras. Viviane de Avalon, em algumas versões, torna-se uma vilã do ponto de vista dos cristãos da era arturiana. Para os jogadores de RPG, é muito comum enfrentar a vilã com poderes mágicos e corpo enrugado. Para quem se aventura no mundo de Arton, basta abrir o segundo volume do Bestiário de Arton para encontrar as bruxas do crepúsculo, da noite e das trevas ou o Mundos dos Deuses para os diabos mauziel (que tomam forma de frágeis senhoras). Mesmo as que não são vilãs, como Olenna Tyrell de As Crônicas de Gelo e Fogo e Morgana de As Crônicas de Artur, tem um quê de vilania em sua forma de agir e falar. Rápidas em decidir e sem papas na língua, usam o corpo fraco como uma vantagem para dizer o que querem e nublar suas ações.
O envelhecimento que traz essa aparente fragilidade e poder se torna muito presente na saga O Ciclo Nessântico, de S. L. Farrel. Os personagens, ao usarem as mais altas formas de magia (como encantar objetos e vislumbrar o futuro) enfraquecem seus corpos e “enfeiam” sua aparência. A beleza, aparentemente, não pode andar de mãos dadas com o poder. A jovem Varina, demonstra muito isso. Enquanto no início era jovem e cheia de vida, sua aparência foi envelhecendo, com rugas e cabelos grisalhos aparecendo conforme seu poder aumentava.
Isso nos leva a questionar. A literatura têm mudado aos poucos sua visão da terceira idade. Novamente, Olenna Tyrell é um grande exemplo disso, mesmo que a personagem da série distoe daquela nos livros. Olenna tornou-se querida pelos fãs de Game of Thrones justamente por isso. A Rainha dos Espinhos driblou o gosto do público pelos jovens e conquistou os corações ao ser justamente quem é: uma velha!
Normalmente descrito como um humano meio-abissal, Bardo 2/Mago 5/Universitário 6, Caótico e Trevoso.