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Vingadore: Ultimato | Crítica (Com Spoilers)

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Épico, emocionante, inesquecível… mesmo com problemas!

Onze anos, vinte e dois filmes e alguns bilhões de dólares depois, ‘Vingadores: Ultimato‘ chega para fechar a primeira etapa do maior fenômeno da cultura pop nos últimos anos (quiçá de todos os tempos), atendendo todas as expectativas dos fãs, quase que em sua totalidade.

Não é novidade pra ninguém a perspicácia da Marvel em identificar e atender o desejo dos fãs, e isso se refletiu em Ultimato como em nenhum outro filme, entregando uma história preocupada acima de tudo em entregar o máximo da diversão aos fãs.

Ultimato começa pouco depois dos eventos trágicos de Guerra Infinita, e transporta deste filme todo o clima de pesar e consternação, aliás, esse tom sombrio permeia o filme o tempo todo.

E o começo de Ultimato é tão ou mais intenso que seu antecessor, há um fio de esperança nascendo em meio a um reencontro com um diálogo dramático entre o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) e o Capitão América (Chris Evans), aliás, cabe aqui meu primeiro descontentamento, não que não faça sentido, mas eu esperava uma solução mais inteligente para o resgate de Tony Stark no espaço do que a óbvia intervenção da Capitã Marvel (Brie Larsson).

Falando na Capitã Marvel, pensando num filme que se propôs a valorizar o arco de seus personagens, Ultimato me fez enxergar a Capitã com outros olhos, seu carisma é absolutamente questionável ainda mais se pensarmos que a Marvel pretende fazer dela a “cara” da sua nova fase de filmes, porém cabe ressaltar que seu caráter foi moldado conforme a dificuldade de aceitação que a personagem teve em seu passado, isso tenha feito dela a pessoa que ela atualmente é, até mesmo com seus traços de arrogância e prepotência, que por vezes transparece, não acho que o filme solo da Capitã tenha funcionado e a personagem também não ajudou, mas Ultimato acenou com novas possibilidades para a heroína, e ainda soube dosar muito bem o tempo de tela e a importância da Capitã dentro do enredo.

O primeiro ato se concentra no desenvolvimento da nova investida dos heróis remanescentes contra Thanos, vemos nascer um fio de esperança de que os efeitos do estalo possam ser revertidos, apenas para vê-lo morrer sufocada na inebriante sensação de fracasso e desespero quando tudo dá errado. A atitude inesperada e brutal de Thor arrancando a cabeça de Thanos é um exemplifica bem a situação emocional dos heróis perante o insucesso do seu plano.

A partir dai o filme tem a feliz ideia de dar um salto de cinco anos, um hiato absolutamente necessário para validar as consequências do estalo pelo mundo, não só nos heróis, mas nas pessoas comuns também, o tom sombrio do filme fica ainda mais forte a partir daqui.

Como dissemos Ultimato é totalmente comprometido em fechar entregar uma historia com o máximo da diversão possível. Para isso o roteiro se faz valer da vantagem que é ter seus personagens apresentados e estabelecidos, e faz uso da simplicidade para entregar determinadas soluções, sem a necessidade de problematizar ou deixar determinadas campanhas complexas demais. Isso pode ser visto no resgate excessivamente obvio de Tony, como na maneira como o Homem-Formiga (Paul Rudd) retorna do Reino Quântico. Enquanto os fãs perderam horas e horas criando teorias e mais teorias envolvendo o resgate do herói, o filme resolve a questão com um rato acidentalmente ligando o túnel quântico e trazendo o herói de volta. O rato pode dividir com Tony Stark as glorias de terem salvado o universo.

A simplicidade se estende também para o recurso da viagem do tempo. Não era novidade nenhuma que o filme usaria a viagem no tempo através do Reino Quântico, o que foi novidade é que o filme criou, digamos regras próprias, simplificando alguns conceitos e deixando de lado, critérios e padrões há muito estabelecidos na cultura pop, aliás, o filme faz até piada com isso.

A linha de raciocínio simples tem seus motivos, afinal de contas à viagem no tempo seria somente uma ferramenta, é muito claro que a intenção dos diretores em não permitir que as pessoas se preocupassem em achar coerência em cadeias complexas de acontecimentos e linhas temporais, já que o foco era o que a viagem no tempo poderia proporcionar, e isso vai além da solução para os efeitos do estalo, este é um filme também dedicado a fechar a historia de seus personagens.

O “assalto no tempo” é acima de tudo uma celebração aos onze anos do Universo Marvel nos Cinemas, revisita alguns momentos importantes do UCM, trazendo de volta alguns personagens, e leva a audiência a vivenciar novamente estes momentos, mas através de outra ótica e com elementos que não haviam sido apresentados em sua versão original, e claro que a icônica Batalha e Nova York teria que reaparecer.

Revisitar estes momentos é trivial para que alguns personagens tenham a oportunidade de tratar de assuntos mal resolvidos no passado, como o próprio Tony Stark que mais maduro e agora pai, se reconcilia com Howard Stark depois de anos de um relacionamento conturbado com seu pai.

Existe muita coerência no arco dos nossos heróis, se considerarmos toda a sua jornada no UCM, Hulk e Thor são ótimos exemplos disto:

Bruce Banner (Mark Ruffalo) sempre esteve atrelado ao dilema de conseguir controlar ou mesmo eliminar seu alter ego, nos cinco anos de hiato desde os eventos de Guerra Infinita, Banner aprendeu a conviver em harmonia com a persona do Hulk, um amálgama da inteligência de Banner e do poder do Hulk, muito plausível considerando a jornada do personagem e totalmente funcional para o desenvolvimento do enredo. Apesar disso, não é exatamente a versão do Golias Esmeralda que mais me agrada.

Quanto a Thor (Chris Hemsworth), enfim o peso das suas perdas recaiu sobre ele. É claro que o novo porte físico do deus do trovão, serviria de alivio cômico, mas seu contexto vai muito, além disso, é o resultado deprimente de uma condição que Thor impôs a ele próprio, por tudo o que aconteceu, mas, sobretudo pelo fracasso do Filho de Odin em deter Thanos. É a imagem de um homem entregue alienado a tudo o que acontece, preso a dor do passado.

Cada um dos heróis lidou com a dor e com o luto à sua maneira, o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), por exemplo, se tornou um vigilante, que mata membros do crime organizado ao redor do mundo, eliminando a escoria que aleatoriamente sobreviveu ao estalo de Thanos, tentando aplacar sua dor após perder sua família no expurgo de Thanos praticamente diante de seus olhos.

Natasha Romanoff, a Viúva Negra (Scarlett Johansson), é quem resgata Clint da escuridão, valorizando um laço de amizade há muito estabelecido no UCM. Aliás, a construção dos laços da amizade há muito vem sendo costurado nos filmes da Marvel, mesmo nos momentos de rompimento como em Guerra Civil,  a amizade nunca deixou de existir, e isso é ressaltado em Ultimato.

Na busca pelo Tesseract no passado, por exemplo, leva Tony Stark e o Capitão América,  uma incursão que reservou a ambos emoções diferentes sobre seu passado, mas acima de tudo ambos juntos em missão, restaura aos olhos do publico a confiança e amizade entre ambos.

Mais nada foi tão comovente neste segundo ato quanto ao sacrifício de Natasha em Vormir na busca pela Jóia da Alma, Natasha faria o que fosse necessário para ter sua família de volta, com certeza a Viúva morreu em paz, ela não suportaria viver com o peso de um provável sacrifício do Gavião em seu lugar, e claro a cena da morte de Natasha fugiu interessantemente do comum ao colocar uma luta entre ambos levada até quase o extremo, um tentando impedir o outro de se sacrificar para obter a Jóia. No final, tanto Clint quanto Natasha fizeram muito mais do humanizar os Vingadores, ambos cada qual a sua maneira foram vitais para a conclusão do enredo.

Por fim a terceira incursão foi em Morag, atrás da Joia do Poder, poucos momentos antes do Senhor das Estrelas (Chris Pratt), roubar a Joia. A busca pela joia do poder em Morag serviu para nos lembrar do quão trágica e dramática é a historia da Nebulosa (Karen Gillian) ao longo da Saga do Infinito, fica muito claro que a personagem nunca foi essencialmente má, sua personalidade foi moldada sob as consequências de um relacionamento abusivo e psicótico com seu “Pai”, Thanos. Tudo o que Nebulosa queria era amor e reconhecimento, no começo do filme podemos ver claramente que mesmo depois de tudo o que Thanos fez com ela e com o universo, ela ainda sente a morte do pai. Isso sem falar na relação com Gamora (Zoe Saldana) trabalhada nos filmes anteriores.

O segundo ato é longo, não tem pressa em apresentar seus eventos, trabalhar o arco dos personagens e unir os elementos para entregar o final apoteótico reservado para o terceiro ato.

Ainda sim a narrativa não se arrasta, pelo contrário dinamiza os elementos da trama, nas suas três horas o filme não é cansativo, não tem momento de marasmo e se mantem o tempo todo interessante, valorizando a aventura, mas mantendo a atmosfera sombria, principalmente quando Thanos (Josh Brolin) toma conhecimento através da contraparte do passado de Nebulosa, não só do plano dos heróis, mas de tudo o que aconteceria no futuro.

Este é um filme dos heróis, ao contrário do que foi Guerra Infinita que foi um filme dos vilões, mas isso não reduziu a importância do Titã Louco no enredo, muito pelo contrário, esta versão de Thanos é muito mais implacável impiedosa e menos nobre do que sua contraparte que no futuro dizimaria metade da vida no universo. Mas isso não quer dizer que esta versão seria menos determinada ou poderosa, muito pelo contrario.

Depois da morte do Thanos do presente, a aparição de sua versão do passado ressuscitou uma sensação de ameaça desmedida potencializada não só pelo que vimos do vilão em Guerra Infinita, mas também por cada atitude sua neste filme, que parece encaminhar tudo para uma solução que ninguém queria, fica muito claro que seu nível de poder é gigantesco, e como os heróis fariam para  derrotar um inimigo tão poderoso, impiedoso e determinado, era uma pergunta muito recorrente aquela altura.

Então veio o terceiro ato, a ameaça de Thanos era novamente real, mas desta vez o Titã estava na Terra com todo o seu poderio militar, seus exércitos e sua nave gigantesca com um poder de fogo devastador que em poucos segundos destruiu o Quartel General dos Vingadores.

A partir daqui o filme desperta uma variedade de sentimentos na audiência, ficamos tensos, felizes, eufóricos, angustiados, comovidos e tristes, com o bombardeios de cenas épicas que o filme entrega.

A batalha que segue começa com Homem-de-Ferro, Thor e o Capitão América enfrentando Thanos, numa cena linda, atendendo a expectativa dos fãs (me incluo nesse grupo) que queria ver os três maiores entre os Vingadores Originais literalmente enchendo a  cara do Genocida de porrada. Foi muito importante ver a valorização  dos três personagens, mas principalmente a do Capitão América,  com pouco destaque em Guerra Infinita, em Ultimato Steve Rogers se tornou o símbolo de honra, coragem e liderança consagrado nos quadrinhos, aliás, olhando com um pouco mais de atenção a estrutura de Guerra Infinita / Ultimato a semelhança com uma mega saga dos quadrinhos é nítida.

O Capitão América seguiu entregando cenas épicas, erguendo o Mjolnir e tudo mais, mas claro que o retorno dos transformados em pó em Guerra Infinita. A cena além de visualmente linda, é construída com um grau de dramaticidade e comoção impressionantes, difícil pensar se existiu alguma sala de cinema no mundo em que não bateram palma neste momento.

Por fim veio a grande batalha, todos os Vingadores reunidos contra as hordas de Thanos, com uma fotografia e a paleta de cores favorece a construção da identidade visual belíssima que esta sequência possui, com cenas de batalhas fáceis de acompanhar, mesmo com uma quantidade enorme de personagens em combate tudo o que acontece em cena é muito claro.

Há um tempo bom de tela para todos os personagens, considerando evidentemente que aqueles que ganharam destaque em Guerra Infinita ficaram em segundo plano, algo absolutamente aceitável, contudo praticamente todos tiveram seu momento de brilhar.

O desfecho da batalha me agradou, a morte de Thanos é mostrada de maneira muito adequada, e a esperada morte do Homem de Ferro, sim desde que apareceu sua filha no começo do filme eu já esperava pela morte de Tony, aconteceu da forma mais heroica possível, um sacrifico inesperado de um personagem que nunca foi um exemplo de moral e retidão, mas que no final se mostrou nobre e heroico em sua essência, entregando o fechamento perfeito não só para a trajetória do Homem  de Ferro, mas para toda a Saga do Infinito.

Ultimato também marcou a despedida de outro ícone UCM, o Capitão América. E nem é preciso dizer que o final destinado a Steve Rogers, foi o melhor possível. Ao escolher ficar no passado depois de devolver as joias as locais de origem, Steve teve a oportunidade de viver uma vida feliz ao lado de sua amada Peggy Carter, uma recompensa à altura para o maior soldado que já existiu.

O problema é como esta situação foi concebida, a aparição de um Steve Rogers velho de posse de um escudo declarou aberta a temporada de duvidas e questionamentos ao confuso padrão de viagem no tempo estipulado por Vingadores Ultimato que por mais de uma vez contradiz no filme as regras de viagem no tempo que ele mesmo estipulou.

Além disso, o filme encerra, sim, alguns arcos, mas por outro lado deixa diversas pontas soltas que talvez comecem a ser respondidas nos próximos filmes do UCM ou nas séries que vem por ai no serviço de streaming da Disney.

Quanto a dúvidas a respeito da coerência da viagem no tempo elas de fato existem e, ao que parece, as respostas dadas tanto pelos diretores, quanto pelos roteiristas, não são exatamente satisfatórias ou esclarecedoras.

Resolver paradoxos, dúvidas ou achar justificativas onde não existem (até agora me pergunto como Thanos conseguiu realizar seu salto no tempo) talvez não seja o caso. Valorizar a diversão elevada ao máximo e curtir este momento único e épico da cultura pop talvez seja o principal. Há falhas, mas também há coerência, sobretudo há muita emoção e um serviço prestado ao fã respeitado e valorizado no encerramento da inesquecível Saga do Infinito.

Vingadores: Ultimato
  • Roteiro
  • Elenco
  • Direção
  • Efeitos Especiais
4

Resumo

‘Vingadores: Ultimato’ é o encerramento grandioso que todos nós esperávamos, diverte, empolga, emociona. Tem defeitos toleráveis considerando tudo o que o filme entregou. Foi uma das maiores experiências já proporcionadas aos fãs pelo cinema.

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